O Nó é o que constrói Nós (artigo): mudanças entre as edições
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Autor: | Autor: Gelson Henrique | ||
Fonte: artigo publicado no [https://ashokabrasil.medium.com/o-n%C3%B3-%C3%A9-o-que-constr%C3%B3i-n%C3%B3s-d581e296039b Medium], em 13 de julho de 2021, e no [https://agenciajovem.org/o-no-e-o-que-constroi-nos/ portal Agência Jovem]<ref>"O Nó é o que constrói Nós" - Agência Jovem de Notícias (agenciajovem.org)</ref>, em 5 de outubro de 2021. | |||
== Sobre == | == Sobre == | ||
[[Arquivo:1 3BH1ZlYd1gUsGclAPLwBqA.jpg|miniaturadaimagem|Gelson Henrique. Foto: UNICEF/BRZ/Rafael Duarte.]] | [[Arquivo:1 3BH1ZlYd1gUsGclAPLwBqA.jpg|miniaturadaimagem|Gelson Henrique. Foto: UNICEF/BRZ/Rafael Duarte.]] | ||
Sou Gelson Henrique, um jovem preto de 21 anos cria de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, ativista pelos direitos humanos desde os 15 anos e produtor cultural. Sou uma construção coletiva, que vem de longe, gerado por uma baiana e um carioca, ambos pretos. | Sou Gelson Henrique, um [[Juventudes em favelas (debate)|jovem]] preto de 21 anos cria de Campo Grande, [[Diversidade cultural na Zona Oeste do Rio de Janeiro (relatório)|Zona Oeste do Rio de Janeiro]], ativista pelos [[:Categoria:Direitos Humanos|direitos humanos]] desde os 15 anos e produtor cultural. Sou uma construção coletiva, que vem de longe, gerado por uma baiana e um carioca, ambos pretos. | ||
Desde a infância, entendo o poder da coletividade e a força da comunidade para a garantia da nossa existência enquanto pessoa singular e como povo conectado por memória e experiências de vida. São os nós que me trouxeram até aqui — e entendo os ''“nós”'' como entrelaçamentos de fios. | Desde a infância, entendo o poder da coletividade e a força da comunidade para a garantia da nossa existência enquanto pessoa singular e como povo conectado por memória e experiências de vida. São os nós que me trouxeram até aqui — e entendo os ''“nós”'' como entrelaçamentos de fios. | ||
É através do entrelaçamento das nossas vidas que a gente vai criando ''“nós”'', a galera que permanece quando o bicho pega. Nos caminhos que trilhamos, há laços que permanecem. A gente percebe que alguns ''“nós”'' estão conosco inclusive no olho do furacão, que é onde o b.o acontece na prática. A gente se articula, mobiliza, constrói e fazemos coisas efetivas para garantir a dignidade humana dos nossos. | É através do entrelaçamento das nossas vidas que a gente vai criando ''“nós”'', a galera que permanece quando o bicho pega. Nos caminhos que trilhamos, há laços que permanecem. A gente percebe que alguns ''“nós”'' estão conosco inclusive no olho do furacão, que é onde o b.o. acontece na prática. A gente se articula, mobiliza, constrói e fazemos coisas efetivas para garantir a dignidade humana dos nossos. | ||
Quanto mais fios compõem um nó, mais resistente ele fica, não é mesmo? Portanto frente a um Estado Racista, que possui a violação dos direitos humanos como sua coluna vertebral, a gente precisa construir coletivamente entre nós desde sempre. | Quanto mais fios compõem um nó, mais resistente ele fica, não é mesmo? Portanto frente a um Estado Racista, que possui a violação dos direitos humanos como sua coluna vertebral, a gente precisa construir coletivamente entre nós desde sempre. | ||
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Entendendo isso, junto com mais cinco jovens de diferentes localidades do Rio de Janeiro, construí o CIJoga (Caravana Itinerante da Juventude), que tem como principal objetivo estimular a participação política e social de jovens de periferia e favelas. Em suma, quer concretizar e viabilizar o artigo 4º do Estatuto da Juventude: ''“O jovem tem direito à participação social e política e na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de juventude”.'' | Entendendo isso, junto com mais cinco jovens de diferentes localidades do Rio de Janeiro, construí o CIJoga (Caravana Itinerante da Juventude), que tem como principal objetivo estimular a participação política e social de jovens de periferia e favelas. Em suma, quer concretizar e viabilizar o artigo 4º do Estatuto da Juventude: ''“O jovem tem direito à participação social e política e na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de juventude”.'' | ||
Quero ver mais jovens elaborando políticas públicas, e não sendo apenas público alvo. Somos nós que precisamos estar nos diversos espaços da sociedade civil organizada. E, para isso, a gente escuta e estimula conversas. Para fazer com que eles entendam tamanha genialidade que há dentro de cada um, que percebam as estratégias que tivemos que criar para permanecermos vivos desde o dia do nosso nascimento. Por isso, sempre nos remetemos aos mais velhos, que vieram construindo os nós, criando sabedorias coletivas das quais bebemos hoje para construir a emancipação do povo preto. | Quero ver mais jovens elaborando [[:Categoria:Políticas Públicas|políticas públicas]], e não sendo apenas público alvo. Somos nós que precisamos estar nos diversos espaços da sociedade civil organizada. E, para isso, a gente escuta e estimula conversas. Para fazer com que eles entendam tamanha genialidade que há dentro de cada um, que percebam as estratégias que tivemos que criar para permanecermos vivos desde o dia do nosso nascimento. Por isso, sempre nos remetemos aos mais velhos, que vieram construindo os nós, criando sabedorias coletivas das quais bebemos hoje para construir a emancipação do povo preto. | ||
Chegamos aqui, portanto falaremos de futuro. | Chegamos aqui, portanto falaremos de futuro. | ||
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Cientista social e idealizador do CIJoga – Caravana Itinerante da Juventude, projeto que percorre as escolas públicas do Rio de Janeiro para promover diálogos com as juventudes e incentivar sua participação nos espaços de tomada de decisão. É conselheiro do UNICEF Brasil, mestrando do programa de políticas públicas e formação humana da UERJ e gerente de projetos na Secretaria Municipal da Juventude do Rio de Janeiro. | Cientista social e idealizador do CIJoga – Caravana Itinerante da Juventude, projeto que percorre as escolas públicas do Rio de Janeiro para promover diálogos com as juventudes e incentivar sua participação nos espaços de tomada de decisão. É conselheiro do UNICEF Brasil, mestrando do programa de políticas públicas e formação humana da UERJ e gerente de projetos na Secretaria Municipal da Juventude do Rio de Janeiro. | ||
Gelson Henrique faz parte do programa Jovem Transformador pela Democracia, realizado pela [https://www.ashoka.org/pt-br Ashoka]. | |||
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Edição atual tal como às 12h49min de 7 de agosto de 2023
Autor: Gelson Henrique
Fonte: artigo publicado no Medium, em 13 de julho de 2021, e no portal Agência Jovem[1], em 5 de outubro de 2021.
Sobre[editar | editar código-fonte]
Sou Gelson Henrique, um jovem preto de 21 anos cria de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, ativista pelos direitos humanos desde os 15 anos e produtor cultural. Sou uma construção coletiva, que vem de longe, gerado por uma baiana e um carioca, ambos pretos.
Desde a infância, entendo o poder da coletividade e a força da comunidade para a garantia da nossa existência enquanto pessoa singular e como povo conectado por memória e experiências de vida. São os nós que me trouxeram até aqui — e entendo os “nós” como entrelaçamentos de fios.
É através do entrelaçamento das nossas vidas que a gente vai criando “nós”, a galera que permanece quando o bicho pega. Nos caminhos que trilhamos, há laços que permanecem. A gente percebe que alguns “nós” estão conosco inclusive no olho do furacão, que é onde o b.o. acontece na prática. A gente se articula, mobiliza, constrói e fazemos coisas efetivas para garantir a dignidade humana dos nossos.
Quanto mais fios compõem um nó, mais resistente ele fica, não é mesmo? Portanto frente a um Estado Racista, que possui a violação dos direitos humanos como sua coluna vertebral, a gente precisa construir coletivamente entre nós desde sempre.
Entendendo isso, junto com mais cinco jovens de diferentes localidades do Rio de Janeiro, construí o CIJoga (Caravana Itinerante da Juventude), que tem como principal objetivo estimular a participação política e social de jovens de periferia e favelas. Em suma, quer concretizar e viabilizar o artigo 4º do Estatuto da Juventude: “O jovem tem direito à participação social e política e na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de juventude”.
Quero ver mais jovens elaborando políticas públicas, e não sendo apenas público alvo. Somos nós que precisamos estar nos diversos espaços da sociedade civil organizada. E, para isso, a gente escuta e estimula conversas. Para fazer com que eles entendam tamanha genialidade que há dentro de cada um, que percebam as estratégias que tivemos que criar para permanecermos vivos desde o dia do nosso nascimento. Por isso, sempre nos remetemos aos mais velhos, que vieram construindo os nós, criando sabedorias coletivas das quais bebemos hoje para construir a emancipação do povo preto.
Chegamos aqui, portanto falaremos de futuro.
O que tenho a dizer é: a partir do momento em que eu conheço os nós de onde eu vim, eu sei para onde vou, valorizando a cultura preta e nossa ancestralidade, respeitando nossos mais velhos, construindo estratégias com nossos contemporâneos, para garantir um bom lugar para os nossos mais novos.
O levante preto taí, e a cara neste momento é dos meus irmãos, jovens, de periferias e favelas que criam gambiarras desde sempre frente ao racismo, e isso só tem sido possível por buscarmos a nós enquanto povo. Em tempo, gostaria de citar um grande pensador campograndense, meu tio: “Surrique, nós somos nó, e é isso que eles temem”.
Para a branquitude, no entanto, nos tornamos nós no “pior” sentido da palavra, que é o que impede, que é um problema difícil de resolver. Somos um problemão mesmo, até porque estão tentando nos exterminar há anos, de diferentes formas, e continuamos aqui. Pedindo licença a nossa mais velha Conceição Evaristo para citá-la: “Eles combinaram de nos matar, e nós combinamos de não morrer”.
Sobre o autor[editar | editar código-fonte]
Cientista social e idealizador do CIJoga – Caravana Itinerante da Juventude, projeto que percorre as escolas públicas do Rio de Janeiro para promover diálogos com as juventudes e incentivar sua participação nos espaços de tomada de decisão. É conselheiro do UNICEF Brasil, mestrando do programa de políticas públicas e formação humana da UERJ e gerente de projetos na Secretaria Municipal da Juventude do Rio de Janeiro.
Gelson Henrique faz parte do programa Jovem Transformador pela Democracia, realizado pela Ashoka.
Referências[editar | editar código-fonte]
- ↑ "O Nó é o que constrói Nós" - Agência Jovem de Notícias (agenciajovem.org)