O Nó é o que constrói Nós (artigo): mudanças entre as edições
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Sou Gelson Henrique, um jovem preto de 21 anos cria de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de | Sou Gelson Henrique, um jovem preto de 21 anos cria de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, ativista pelos direitos humanos desde os 15 anos e produtor cultural. Sou uma construção coletiva, que vem de longe, gerado por uma baiana e um carioca, ambos pretos. | ||
Desde a infância, entendo o poder da coletividade e a força da comunidade para a garantia da nossa existência enquanto pessoa singular e como povo conectado por memória e experiências de vida. São os nós que me trouxeram até aqui — e entendo os ''“nós”'' como entrelaçamentos de fios. | Desde a infância, entendo o poder da coletividade e a força da comunidade para a garantia da nossa existência enquanto pessoa singular e como povo conectado por memória e experiências de vida. São os nós que me trouxeram até aqui — e entendo os ''“nós”'' como entrelaçamentos de fios. |
Edição das 15h25min de 1 de fevereiro de 2023
Autor: artigo produzido por Gelson Henrique*, Jovem Transformador pela Democracia, e originalmente publicado no portal Agência Jovem[1] em 5 de outubro de 2021.
Sobre
Sou Gelson Henrique, um jovem preto de 21 anos cria de Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, ativista pelos direitos humanos desde os 15 anos e produtor cultural. Sou uma construção coletiva, que vem de longe, gerado por uma baiana e um carioca, ambos pretos.
Desde a infância, entendo o poder da coletividade e a força da comunidade para a garantia da nossa existência enquanto pessoa singular e como povo conectado por memória e experiências de vida. São os nós que me trouxeram até aqui — e entendo os “nós” como entrelaçamentos de fios.
É através do entrelaçamento das nossas vidas que a gente vai criando “nós”, a galera que permanece quando o bicho pega. Nos caminhos que trilhamos, há laços que permanecem. A gente percebe que alguns “nós” estão conosco inclusive no olho do furacão, que é onde o b.o acontece na prática. A gente se articula, mobiliza, constrói e fazemos coisas efetivas para garantir a dignidade humana dos nossos.
Quanto mais fios compõem um nó, mais resistente ele fica, não é mesmo? Portanto frente a um Estado Racista, que possui a violação dos direitos humanos como sua coluna vertebral, a gente precisa construir coletivamente entre nós desde sempre.
Entendendo isso, junto com mais cinco jovens de diferentes localidades do Rio de Janeiro, construí o CIJoga (Caravana Itinerante da Juventude), que tem como principal objetivo estimular a participação política e social de jovens de periferia e favelas. Em suma, quer concretizar e viabilizar o artigo 4º do Estatuto da Juventude: “O jovem tem direito à participação social e política e na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de juventude”.
Quero ver mais jovens elaborando políticas públicas, e não sendo apenas público alvo. Somos nós que precisamos estar nos diversos espaços da sociedade civil organizada. E, para isso, a gente escuta e estimula conversas. Para fazer com que eles entendam tamanha genialidade que há dentro de cada um, que percebam as estratégias que tivemos que criar para permanecermos vivos desde o dia do nosso nascimento. Por isso, sempre nos remetemos aos mais velhos, que vieram construindo os nós, criando sabedorias coletivas das quais bebemos hoje para construir a emancipação do povo preto.
Chegamos aqui, portanto falaremos de futuro.
O que tenho a dizer é: a partir do momento em que eu conheço os nós de onde eu vim, eu sei para onde vou, valorizando a cultura preta e nossa ancestralidade, respeitando nossos mais velhos, construindo estratégias com nossos contemporâneos, para garantir um bom lugar para os nossos mais novos.
O levante preto taí, e a cara neste momento é dos meus irmãos, jovens, de periferias e favelas que criam gambiarras desde sempre frente ao racismo, e isso só tem sido possível por buscarmos a nós enquanto povo. Em tempo, gostaria de citar um grande pensador campograndense, meu tio: “Surrique, nós somos nó, e é isso que eles temem”.
Para a branquitude, no entanto, nos tornamos nós no “pior” sentido da palavra, que é o que impede, que é um problema difícil de resolver. Somos um problemão mesmo, até porque estão tentando nos exterminar há anos, de diferentes formas, e continuamos aqui. Pedindo licença a nossa mais velha Conceição Evaristo para citá-la: “Eles combinaram de nos matar, e nós combinamos de não morrer”.
Sobre o autor
Cientista social e idealizador do CIJoga – Caravana Itinerante da Juventude, projeto que percorre as escolas públicas do Rio de Janeiro para promover diálogos com as juventudes e incentivar sua participação nos espaços de tomada de decisão. É conselheiro do UNICEF Brasil, mestrando do programa de políticas públicas e formação humana da UERJ e gerente de projetos na Secretaria Municipal da Juventude do Rio de Janeiro.
Referências
- ↑ "O Nó é o que constrói Nós" - Agência Jovem de Notícias (agenciajovem.org)