Democracia é Saúde: mudanças entre as edições

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Para este debate, pareceu-me que nada melhor do que iniciar com o conceito de saúde e doença que vem sendo, nos últimos anos, colocado pela Organização Mundial de Saúde. Conceito muito criticado, talvez porque ficasse em termos muito genéricos e abstratos, e não conseguisse servir de base para a determinação de quantas pessoas têm ou não têm saúde em um certo país. Mas, neste momento de transição, é importante voltar a colocar esse conceito sobre a mesa: de que saúde não é simplesmente ausência de doença, não é simplesmente o fato de que, num determinado instante, por qualquer forma de diagnóstico médico ou através de qualquer tipo de exame, não seja constatada doença alguma na pessoa. Para a Organização Mundial de Saúde, é mais do que isso: além da simples ausência de doença, saúde deve ser entendida como bem-estar físico, mental e social.
Para este debate, pareceu-me que nada melhor do que iniciar com o conceito de saúde e doença que vem sendo, nos últimos anos, colocado pela Organização Mundial de Saúde. Conceito muito criticado, talvez porque ficasse em termos muito genéricos e abstratos, e não conseguisse servir de base para a determinação de quantas pessoas têm ou não têm saúde em um certo país. Mas, neste momento de transição, é importante voltar a colocar esse conceito sobre a mesa: de que saúde não é simplesmente ausência de doença, não é simplesmente o fato de que, num determinado instante, por qualquer forma de diagnóstico médico ou através de qualquer tipo de exame, não seja constatada doença alguma na pessoa. Para a Organização Mundial de Saúde, é mais do que isso: além da simples ausência de doença, saúde deve ser entendida como bem-estar físico, mental e social.
 
[[Arquivo:Sergio-arouca-1986-8a-oitava-conferencia-nacional-saude-fiocruz-fundacao-oswaldo-cruz.jpg|alt=Sérgio Arouca (Presidente da Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz) durante a 8ª Conferência Nacional de Saúde em março de 1986.|esquerda|miniaturadaimagem|Sérgio Arouca (Presidente da 8ª Conferência Nacional de Saúde)]]
Nos debates que antecederam a Conferência Nacional de Saúde, algumas pessoas, entre as quais o Professor Cinamon, da Escola Nacional de Saúde Pública, falaram também em ausência do medo. Talvez seja interessante a gente pensar um pouquinho sobre o que significa isso, o que significa esse conceito de saúde, colocado quase como algo a ser atingido. Não é simplesmente não estar doente, é mais: é um bem­ estar social, é o direito ao trabalho, a um salário condigno; é o direito a ter água, à vestimenta, à educação, e, até, a informa­ções sobre como se pode dominar este mundo e transformá-lo. É ter direito a um meio ambiente que não seja agressivo, mas, que, pelo contrário, permita a existência de uma vida digna e decente; a um sistema político que respeite a livre opinião, a livre possibilidade de organização e de autodeterminação de um povo. É não estar todo o tempo submetido ao medo da violência, tanto daquela violência resultante da miséria, que é o roubo, o ataque, como da violência de um governo contra o seu próprio povo, para que sejam mantidos interesses que não sejam os do povo, como aconteceu, infelizmente, na última década, na América Latina, e continua ainda a acontecer em alguns países (se bem que a maioria da América Latina conseguiu, nos últimos anos, libertar-se das ditaduras). Vimos, agora, com alegria, países como o Haiti e as Filipinas libertarem-se da dita­dura. Mas ainda somos obrigados a conviver com a ditadura chilena.
Nos debates que antecederam a Conferência Nacional de Saúde, algumas pessoas, entre as quais o Professor Cinamon, da Escola Nacional de Saúde Pública, falaram também em ausência do medo. Talvez seja interessante a gente pensar um pouquinho sobre o que significa isso, o que significa esse conceito de saúde, colocado quase como algo a ser atingido. Não é simplesmente não estar doente, é mais: é um bem­ estar social, é o direito ao trabalho, a um salário condigno; é o direito a ter água, à vestimenta, à educação, e, até, a informa­ções sobre como se pode dominar este mundo e transformá-lo. É ter direito a um meio ambiente que não seja agressivo, mas, que, pelo contrário, permita a existência de uma vida digna e decente; a um sistema político que respeite a livre opinião, a livre possibilidade de organização e de autodeterminação de um povo. É não estar todo o tempo submetido ao medo da violência, tanto daquela violência resultante da miséria, que é o roubo, o ataque, como da violência de um governo contra o seu próprio povo, para que sejam mantidos interesses que não sejam os do povo, como aconteceu, infelizmente, na última década, na América Latina, e continua ainda a acontecer em alguns países (se bem que a maioria da América Latina conseguiu, nos últimos anos, libertar-se das ditaduras). Vimos, agora, com alegria, países como o Haiti e as Filipinas libertarem-se da dita­dura. Mas ainda somos obrigados a conviver com a ditadura chilena.