Seu Olívio (entrevista): mudanças entre as edições

A entrevista faz parte do projeto "Histórias, Memórias e Oralidades da luta social por terra e moradia na região de Jacarepaguá de 1960 a 2016", desenvolvido pelo Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz- Mata Atlântica, em parceria com a Cooperação Social da Fiocruz. Nesse episódio, o entrevistado é seu Olívio.
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(A entrevista faz parte do projeto "Histórias, Memórias e Oralidades da luta social por terra e moradia na região de Jacarepaguá de 1960 a 2016", desenvolvido pelo Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz- Mata Atlântica, em parceria com a Cooperação Social da Fiocruz. Nesse episódio, o entrevistado é seu Olívio.)
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Material de pesquisa do Projeto do Campus Fiocruz da Mata Atlântica em parceria com a Cooperação Social, gentilmente cedido ao '''Dicionário de Favelas Marielle Franco'''.
A entrevista faz parte do projeto "[[Histórias, Memórias, Oralidades e Cartografia da Luta Social por Terra e Moradia na Região de Jacarepaguá|Histórias, Memórias e Oralidades da luta social por terra e moradia na região de Jacarepaguá de 1960 a 2016]]", desenvolvido pelo Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz- Mata Atlântica, em parceria com a Cooperação Social da Fiocruz. Nesse episódio, o entrevistado é seu Olívio.
A entrevista faz parte do projeto "[[Histórias, Memórias, Oralidades e Cartografia da Luta Social por Terra e Moradia na Região de Jacarepaguá|Histórias, Memórias e Oralidades da luta social por terra e moradia na região de Jacarepaguá de 1960 a 2016]]", desenvolvido pelo Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz- Mata Atlântica, em parceria com a Cooperação Social da Fiocruz. Nesse episódio, o entrevistado é seu Olívio.
Autoria: Material de pesquisa do Projeto do Campus Fiocruz da Mata Atlântica em parceria com a Cooperação Social, gentilmente cedido ao '''Dicionário de Favelas Marielle Franco'''.
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Eu cheguei no Rio de Janeiro, e não sabia fazer nada, eu só sabia trabalhar na agricultura. Então o primeiro lugar que eu procurei trabalho foi no Porto Agrícola, para trabalhar com agricultura. Então eu comecei a fazer biscate. Tinha muitas chácaras. Naquela época Jacarepaguá era uma área rural, em 1965. A única coisa que descaracterizava a área rural era o bonde.  
Eu cheguei no Rio de Janeiro, e não sabia fazer nada, eu só sabia trabalhar na agricultura. Então o primeiro lugar que eu procurei trabalho foi no Porto Agrícola, para trabalhar com agricultura. Então eu comecei a fazer biscate. Tinha muitas chácaras. Naquela época Jacarepaguá era uma área rural, em 1965. A única coisa que descaracterizava a área rural era o bonde.  


Quando cheguei, eu me senti em casa. Eu trabalhei na chácara de um alemão, na Rua Baipendí. Ele era dono de uma metalúrgica  e ele me levou para fábrica, trabalhei com ajudante geral e 2 anos depois eu já era serralheiro. Ele me perguntou o que eu sabia: eu sabia faz balaio, peneira, armadilha pra peixes, cortar cabelo, tocar viola. Nada disso servia pra ele. Ele me botou como ajudante, 2 anos depois eu já era serralheiro. E é por isso que estou aqui dando este depoimento.
Quando cheguei, eu me senti em casa. Eu trabalhei na chácara de um alemão, na Rua Baipendí. Ele era dono de uma metalúrgica e ele me levou para fábrica, trabalhei com ajudante geral e 2 anos depois eu já era serralheiro. Ele me perguntou o que eu sabia: eu sabia faz balaio, peneira, armadilha pra peixes, cortar cabelo, tocar viola. Nada disso servia pra ele. Ele me botou como ajudante, 2 anos depois eu já era serralheiro. E é por isso que estou aqui dando este depoimento.


=== Teologia da Libertação ===
=== Teologia da Libertação ===
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=== Política ===
=== Política ===
Bom, entrei nos movimentos populares, partido político, Associação de Moradores. Na igreja, na missa era só um lugar para recarregar a bateria, mas na rua, era o lugar de agir. Então o grupo pensou. Tinha um grupo jovem muito bom, muito grande, e então resolvemos reativar a AMOATA - Associação de Moradores da Taquara (1980/1981). Nós resolvemos assumir. E eu tinha pouca experiência, eu acreditava em tudo, era fácil me enganar. Então ia pra FAERJ e eu dava os informes, e os caras desciam o cacete em mim e eu percebi depois que era por questões politicas. Eu vi que não era isso que eu queria, eu queria mudar a sociedade, eu voltava dava informe, falava que quase me bateram e eles riam, porque sabiam o porquê. Daí percebemos que nós precisávamos de muito para encaminhar com nossos projetos, as coisas, muitos problemas, questão de luz, transporte. Se agora é ruim, antes era muito pior. Então a gente organizava comissões pra ir às secretarias. Aí percebemos que era preciso entrar, resolvemos ajudar e colher assinaturas para organizar o PT na política. Por isso me dói o coração, com as mazelas que estão aí hoje, a corrupção e tudo que aconteceu. Porque eu ajudei a criar esse partido com o maior boa fé, tenho certeza disto. E aí nós nos envolvemos o máximo com a política.
Bom, entrei nos movimentos populares, partido político, Associação de Moradores. Na igreja, na missa era só um lugar para recarregar a bateria, mas na rua, era o lugar de agir. Então o grupo pensou. Tinha um grupo jovem muito bom, muito grande, e então resolvemos reativar a AMOATA - Associação de Moradores da Taquara (1980/1981). Nós resolvemos assumir. E eu tinha pouca experiência, eu acreditava em tudo, era fácil me enganar. Então ia pra FAERJ e eu dava os informes, e os caras desciam o cacete em mim e eu percebi depois que era por questões politicas. Eu vi que não era isso que eu queria, eu queria mudar a sociedade, eu voltava dava informe, falava que quase me bateram e eles riam, porque sabiam o porquê. Daí percebemos que nós precisávamos de muito para encaminhar com nossos projetos, as coisas, muitos problemas, questão de luz, transporte. Se agora é ruim, antes era muito pior. Então a gente organizava comissões pra ir às secretarias. Aí percebemos que era preciso entrar, resolvemos ajudar e colher assinaturas para organizar o PT na política. Por isso me dói o coração, com as mazelas que estão aí hoje, a corrupção e tudo que aconteceu. Porque eu ajudei a criar esse partido com o maior boa-fé, tenho certeza disto. E aí nós nos envolvemos o máximo com a política.


Eu acredito. Partido politico é uma parte da sociedade, que pensa igual. No PT, a coisa vinha de baixo pra cima, as propostas vinham de base, mas quando chegou ao poder, começa a vir de cima pra baixo. E hoje está difícil uma alternativa Se não houver uma reforma política muito forte mesmo, não tem PSOL, não tem partido nenhum – porque são 3 poderes. Eu estava muito desanimado, mas parece que o povo começa a enxergar e vir pra rua. Mas não basta isso. Eu acho que até para um governo de boa fé, o povo na rua é muito importante, vai servir muito. Agora não vai servir pros calhordas que estão pra seguir. Mas para o governo que tem boa fé, é muito importante esse pessoal na rua. Vai ajudar porque são 3 poderes e um travando o outro. O Judiciário travando o Executivo, os parlamentares travando o Executivo. É uma loucura essa política! Só que tá lá dentro, é um balaio de gato. E a reforma política, que vem do povo (as decisões)... Na constituição diz do povo, mas nas eleições, se submetem a pagar pessoas para fazer campanha.  
Eu acredito. Partido político é uma parte da sociedade, que pensa igual. No PT, a coisa vinha de baixo pra cima, as propostas vinham de base, mas quando chegou ao poder, começa a vir de cima pra baixo. E hoje está difícil uma alternativa se não houver uma reforma política muito forte mesmo, não tem PSOL, não tem partido nenhum – porque são 3 poderes. Eu estava muito desanimado, mas parece que o povo começa a enxergar e vir pra rua. Mas não basta isso. Eu acho que até para um governo de boa fé, o povo na rua é muito importante, vai servir muito. Agora não vai servir pros calhordas que estão pra seguir. Mas para o governo que tem boa fé, é muito importante esse pessoal na rua. Vai ajudar porque são 3 poderes e um travando o outro. O Judiciário travando o Executivo, os parlamentares travando o Executivo. É uma loucura essa política! Só que tá lá dentro, é um balaio de gato. E a reforma política, que vem do povo (as decisões)... Na constituição diz do povo, mas nas eleições, se submetem a pagar pessoas para fazer campanha.  


A política moderna está profissional. Antigamente era a gente que fazia os panfletos. O que eu penso é que é difícil fazer hoje uma reforma política, porque os deputados que estão lá... Muitas pessoas acabam encantando quando conseguem uma viagem de avião.
A política moderna está profissional. Antigamente era a gente que fazia os panfletos. O que eu penso é que é difícil fazer hoje uma reforma política, porque os deputados que estão lá... Muitas pessoas acabam encantando quando conseguem uma viagem de avião.
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*[[Irmão do Morro (documentário)]]   
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