Auto de resistência: a omissão que mata: mudanças entre as edições

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<p style="text-align: justify;">Entre janeiro e agosto de 2019, foram registradas mais de mil mortes por intervenção policial no Rio de Janeiro, os chamados auto de resistência, de acordo com Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP). Mesmo registrando uma queda no chamado indicador letalidade violenta (que corresponde ao homicídio doloso, roubo seguido de morte, lesão corporal seguida de morte e morte por intervenção de agente do Estado), as mortes consideradas auto de resistência tiveram um aumento em 18% em relação a maio de 2018, de acordo com os dados oficiais do ISP.<br/> O projeto “''Auto de resistência: a omissão que mata''” foi iniciado em 2018 pela jornalista Gizele Martins e apoio da jornalista Jéssica Santos e consistiu em uma série de reportagens sobre os auto de resistência no Rio e o aumento da violência policial. O projeto foi realizado com apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos. Esta publicação é um recorte das matérias e entrevistas publicadas digitalmente ao longo do período de investigação e ações do projeto.<br/> Desde que ele foi iniciado, muito ocorreu no contexto da segurança pública no Rio de Janeiro. Em 16 de fevereiro de 2018, o então presidente Michel Temer decretou uma intervenção na área de segurança pública no estado. Um general do Exército foi designado como interventor e passou a ter comando direto sobre as polícias estaduais, Corpo de Bombeiros e Secretaria de Administração Penitenciária até o final do ano. No mês seguinte, em 14 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados no bairro Estácio, região central da cidade do Rio. Eles voltaram de uma atividade quando um carro efetuou vários disparos. Marielle atuava como defensora de direitos humanos há mais de dez anos lutando pelos direitos da população que vive na&nbsp; periferia sofrendo diariamente com a ausência do Estado e o excesso de violência policial. Sabe-se que a política de extermínio praticada pelos governantes é uma prática já estabelecida. Nos últimos 10 anos, as periferias sofreram com o aumento do poder bélico dentro das favelas, sofreram com a entrada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e, também, com a entrada do exército em algumas destas favelas. Governantes da época também afirmavam que o público favelado era o público inimigo e que deveria ser combatido. Nos últimos 10 anos, 16 mil pessoas morreram vítimas das ações policiais em favelas e periferias do Rio. Na&nbsp;Baixada Fluminense, segundo levantamento realizado pelo Fórum Grita Baixada e Centro dos Direitos Humanos, pelo projeto de Litigância Estratégica, a partir de dados da polícia civil entre 2010 à 2015 tivemos 2046 autos de resistência na Baixada Fluminense, sendo o 15º BPM — Duque de Caxias o mais envolvido.<br/> Os novos governantes, também demonstram que as práticas militares serão cada vez mais presentes nos bairros empobrecidos do Rio. “''O correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai mirar na cabecinha e… fogo!''”, afirmou o governador eleito no Rio de Janeiro. Wilson Witzel que vai comandar a cidade pelos próximos quatro anos (2019 a 2022). Esta declaração do novo governador mostra o quanto o Rio de Janeiro vem aumentando a sua prática genocida dentro das favelas e periferias. Esta é a população considerada a inimiga da cidade, do Estado, é a “cabecinha” do jovem negro e morador de favela e periferia que este governador quer “abater”.<br/> Com isto, se pergunta a quem recorrer diante do aumento no número de casos de auto de resistência, de chacinas e de operações que ocorrem hoje com helicópteros blindados, tanques de guerra e caveirões. A quem recorrer quando se tem o próprio Estado legitimando a ordem para matar, quando se tem um judiciário conivente com as práticas do Estado quando não leva casos como estes a julgamento, legitimando a impunidade. &nbsp;</p>  
<p style="text-align: justify;">Entre janeiro e agosto de 2019, foram registradas mais de mil mortes por intervenção policial no Rio de Janeiro, os chamados auto de resistência, de acordo com Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP). Mesmo registrando uma queda no chamado indicador letalidade violenta (que corresponde ao homicídio doloso, roubo seguido de morte, lesão corporal seguida de morte e morte por intervenção de agente do Estado), as mortes consideradas auto de resistência tiveram um aumento em 18% em relação a maio de 2018, de acordo com os dados oficiais do ISP.<br/> O projeto “''Auto de resistência: a omissão que mata''” foi iniciado em 2018 pela jornalista Gizele Martins e apoio da jornalista Jéssica Santos e consistiu em uma série de reportagens sobre os auto de resistência no Rio e o aumento da violência policial. O projeto foi realizado com apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos. Esta publicação é um recorte das matérias e entrevistas publicadas digitalmente ao longo do período de investigação e ações do projeto.<br/> Desde que ele foi iniciado, muito ocorreu no contexto da segurança pública no Rio de Janeiro. Em 16 de fevereiro de 2018, o então presidente Michel Temer decretou uma intervenção na área de segurança pública no estado. Um general do Exército foi designado como interventor e passou a ter comando direto sobre as polícias estaduais, Corpo de Bombeiros e Secretaria de Administração Penitenciária até o final do ano. No mês seguinte, em 14 de março de 2018, a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram assassinados no bairro Estácio, região central da cidade do Rio. Eles voltaram de uma atividade quando um carro efetuou vários disparos. Marielle atuava como defensora de direitos humanos há mais de dez anos lutando pelos direitos da população que vive na&nbsp; periferia sofrendo diariamente com a ausência do Estado e o excesso de violência policial. Sabe-se que a política de extermínio praticada pelos governantes é uma prática já estabelecida. Nos últimos 10 anos, as periferias sofreram com o aumento do poder bélico dentro das favelas, sofreram com a entrada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e, também, com a entrada do exército em algumas destas favelas. Governantes da época também afirmavam que o público favelado era o público inimigo e que deveria ser combatido. Nos últimos 10 anos, 16 mil pessoas morreram vítimas das ações policiais em favelas e periferias do Rio. Na&nbsp;Baixada Fluminense, segundo levantamento realizado pelo Fórum Grita Baixada e Centro dos Direitos Humanos, pelo projeto de Litigância Estratégica, a partir de dados da polícia civil entre 2010 à 2015 tivemos 2046 autos de resistência na Baixada Fluminense, sendo o 15º BPM — Duque de Caxias o mais envolvido.<br/> Os novos governantes, também demonstram que as práticas militares serão cada vez mais presentes nos bairros empobrecidos do Rio. “''O correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai mirar na cabecinha e… fogo!''”, afirmou o governador eleito no Rio de Janeiro. Wilson Witzel que vai comandar a cidade pelos próximos quatro anos (2019 a 2022). Esta declaração do novo governador mostra o quanto o Rio de Janeiro vem aumentando a sua prática genocida dentro das favelas e periferias. Esta é a população considerada a inimiga da cidade, do Estado, é a “''cabecinha''” do jovem negro e morador de favela e periferia que este governador quer “''abater''”.<br/> Com isto, se pergunta a quem recorrer diante do aumento no número de casos de auto de resistência, de chacinas e de operações que ocorrem hoje com helicópteros blindados, tanques de guerra e caveirões. A quem recorrer quando se tem o próprio Estado legitimando a ordem para matar, quando se tem um judiciário conivente com as práticas do Estado quando não leva casos como estes a julgamento, legitimando a impunidade. &nbsp;</p>  
== Publicação ==
== Publicação ==
<p style="text-align: justify;">Nesta publicação você encontrará parte da primeira reportagem publicada em 2018 chamada “''Ditadura na Democracia''”, que apresenta um panorama do contexto da segurança pública do Rio de Janeiro com a intervenção militar e aborda como os auto de resistência, já nesse período, demonstravam aumento em detrimento das investigações, que só diminuem.<br/> Em seguida, abordaremos a luta das famílias por justiça, em especial das mães na matéria “''Auto de resistência e impunidade''”. Pessoas que transformam um grande trauma em força para a luta contra a violência do Estado. Quando se trata de auto de resi s tência, o registro do ocorrido é feito pelos policiais e as testemunhas são os próprios policiais que estavam na ação. Pouquíssimos são os casos que chegam a ser investigados, são denunciados e vão a julgamento. Já a terceira reportagem intitulada “C''asos de ‘auto de resistência’ com crianças e adolescentes no Rio: violência e injustiça contra quem não tem chance de crescer''” relata casos em que a infância é interrompida pela violência policial e registrados como auto de resistência.<br/> Como parte do projeto, foi realizada uma exibição seguida de debate do filme "''Auto de Resistência"'', dirigido por Natasha Neri e Lula Carvalho, em São Gonçalo. O filme mostra a trajetória de pessoas que perderam familiares em operações policiais, como se dá o tratamento do Estado a esses casos, passando pela investigação ao julgamento. A proposta do encontro, assim como desta publicação, é ampliar o debate sobre o tema e promover reflexões sobre o atual contexto de aumento da violência policial e estratégias de luta e enfrentamento a esse quadro. &nbsp;</p>  
<p style="text-align: justify;">Nesta publicação você encontrará parte da primeira reportagem publicada em 2018 chamada “''Ditadura na Democracia''”, que apresenta um panorama do contexto da segurança pública do Rio de Janeiro com a intervenção militar e aborda como os auto de resistência, já nesse período, demonstravam aumento em detrimento das investigações, que só diminuem.<br/> Em seguida, abordaremos a luta das famílias por justiça, em especial das mães na matéria “''Auto de resistência e impunidade''”. Pessoas que transformam um grande trauma em força para a luta contra a violência do Estado. Quando se trata de auto de resi s tência, o registro do ocorrido é feito pelos policiais e as testemunhas são os próprios policiais que estavam na ação. Pouquíssimos são os casos que chegam a ser investigados, são denunciados e vão a julgamento. Já a terceira reportagem intitulada “C''asos de ‘auto de resistência’ com crianças e adolescentes no Rio: violência e injustiça contra quem não tem chance de crescer''” relata casos em que a infância é interrompida pela violência policial e registrados como auto de resistência.<br/> Como parte do projeto, foi realizada uma exibição seguida de debate do filme "''Auto de Resistência"'', dirigido por Natasha Neri e Lula Carvalho, em São Gonçalo. O filme mostra a trajetória de pessoas que perderam familiares em operações policiais, como se dá o tratamento do Estado a esses casos, passando pela investigação ao julgamento. A proposta do encontro, assim como desta publicação, é ampliar o debate sobre o tema e promover reflexões sobre o atual contexto de aumento da violência policial e estratégias de luta e enfrentamento a esse quadro. &nbsp;</p>  
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