Favela Vive 3 (análise crítica): mudanças entre as edições

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== Análise da música ==
== Sons como representação da violência ==
“Entre o crime e o rap, click-clack. Nasce um som, morre um moleque.” Neste verso, Lord fala sobre dois sons distintos, utilizando signos diferentes. O rap, que é escrito normalmente, e o som da arma, que aparece como onomatopeia, mas, sem dificuldade, conseguimos associar ao objeto que ele queria representar. De forma mais aprofundada, ao analisar esses dois sons, para investigar o simbolismo por trás de cada um, é possível identificar que os dois são opostos. Enquanto o rap representa a esperança e onde “nasce um som”, o barulho da arma é o signo da morte e da violência. Ao parar para pensar, não é só o barulho de armas e tiros que simbolizam a violência. Outro som bastante familiar é o barulho do helicóptero sobrevoando a favela, que representa a ameaça, dá um sinal de que uma operação está acontecendo ou para acontecer. O barulho é um sinal de alerta.
“Entre o crime e o rap, click-clack. Nasce um som, morre um moleque.” Neste verso, Lord fala sobre dois sons distintos, utilizando signos diferentes. O rap, que é escrito normalmente, e o som da arma, que aparece como onomatopeia, mas, sem dificuldade, conseguimos associar ao objeto que ele queria representar. De forma mais aprofundada, ao analisar esses dois sons, para investigar o simbolismo por trás de cada um, é possível identificar que os dois são opostos. Enquanto o rap representa a esperança e onde “nasce um som”, o barulho da arma é o signo da morte e da violência. Ao parar para pensar, não é só o barulho de armas e tiros que simbolizam a violência. Outro som bastante familiar é o barulho do helicóptero sobrevoando a favela, que representa a ameaça, dá um sinal de que uma operação está acontecendo ou para acontecer. O barulho é um sinal de alerta.


Hall (2016) apresenta no livro “Cultura e Representação”, a abordagem construtivista, que afirma que nós construímos sentido, usando sistemas representacionais. Ou seja, não são nem as coisas por si próprias, nem os indivíduos de forma arbitrária  que dão significado à linguagem. A construção é feita a partir do domínio simbólico da vida. Assim, voltamos para os sons que são a representação da violência, morte e ameaça neste território. O significado deles nesses espaços se dá por uma experiência comum recorrente, onde essas sonoridades aparecem sempre nas situações de violência policial, invasão, confronto etc. Dessa forma, esses sons são associados a essas circunstâncias de violência e ganham um sentido atrelado a elas.
Hall (2016) apresenta no livro “Cultura e Representação”, a abordagem construtivista, que afirma que nós construímos sentido, usando sistemas representacionais. Ou seja, não são nem as coisas por si próprias, nem os indivíduos de forma arbitrária  que dão significado à linguagem. A construção é feita a partir do domínio simbólico da vida. Assim, voltamos para os sons que são a representação da violência, morte e ameaça neste território. O significado deles nesses espaços se dá por uma experiência comum recorrente, onde essas sonoridades aparecem sempre nas situações de violência policial, invasão, confronto etc. Dessa forma, esses sons são associados a essas circunstâncias de violência e ganham um sentido atrelado a elas.


== Ausência do Estado ==
O Estado se faz ausente nas favelas, sendo conivente com os problemas e opressões que esse território enfrenta.“Esquerda de lá, direita de cá. E o povo segue tomando no centro”. A letra de Djonga expressa um sentimento de abandono, em que acredita-se, que independente do espectro político, o povo segue não sendo uma prioridade dos governantes e dos políticos. Outra parte da canção onde é possível identificar a ausência do Estado é a seguinte: “Passou da barricada, aqui é nóis quem faz as leis”. As barricadas são, normalmente, utilizadas para dificultar a entrada da polícia, no entanto, pode-se entender, também, a barricada como a representação das fronteiras da favela, o limite onde o poder do Governo não ultrapassa.  
O Estado se faz ausente nas favelas, sendo conivente com os problemas e opressões que esse território enfrenta.“Esquerda de lá, direita de cá. E o povo segue tomando no centro”. A letra de Djonga expressa um sentimento de abandono, em que acredita-se, que independente do espectro político, o povo segue não sendo uma prioridade dos governantes e dos políticos. Outra parte da canção onde é possível identificar a ausência do Estado é a seguinte: “Passou da barricada, aqui é nóis quem faz as leis”. As barricadas são, normalmente, utilizadas para dificultar a entrada da polícia, no entanto, pode-se entender, também, a barricada como a representação das fronteiras da favela, o limite onde o poder do Governo não ultrapassa.  


== Outras representações da favela ==
Embora sejam feitas  denúncias aos problemas presentes na favela, ao longo da música alguns versos fogem dessa narrativa, como o exemplo a seguir:
Embora sejam feitas  denúncias aos problemas presentes na favela, ao longo da música alguns versos fogem dessa narrativa, como o exemplo a seguir:


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Além disso, o dinheiro e os itens de luxo aparecem como o signo de vitória, prosperidade e bem estar. “A tropa tá na pista fardada de Calvin Klein.”. A ostentação é uma forma de representar a conquista e a abundância. Os itens de luxo, que alguns podem enxergar como futilidade, aqui tem um significado maior.  O verso de Djonga a seguir reforça a ideia do dinheiro como um signo de prosperidade: “Mas nóis sorri quando cai grana”. Essa prosperidade é significativa tanto para quem canta, como para quem se sente representado pelos rappers. Esses artistas representam a favela, então ver esse sucesso, para alguns, vai ser significativo. Principalmente, para crianças, adolescentes e jovens, eles poderão servir como inspiração.
Além disso, o dinheiro e os itens de luxo aparecem como o signo de vitória, prosperidade e bem estar. “A tropa tá na pista fardada de Calvin Klein.”. A ostentação é uma forma de representar a conquista e a abundância. Os itens de luxo, que alguns podem enxergar como futilidade, aqui tem um significado maior.  O verso de Djonga a seguir reforça a ideia do dinheiro como um signo de prosperidade: “Mas nóis sorri quando cai grana”. Essa prosperidade é significativa tanto para quem canta, como para quem se sente representado pelos rappers. Esses artistas representam a favela, então ver esse sucesso, para alguns, vai ser significativo. Principalmente, para crianças, adolescentes e jovens, eles poderão servir como inspiração.


== Conclusão ==
Com uma representação crítica sobre as questões sociais presentes na favela, a canção “Favela Vive 3” traz uma dura reflexão sobre o território e aborda assuntos importantes a serem discutidos. No entanto, seria enriquecedor diversificar, em termos de gênero, sexualidade e identidade de gênero, os MCs em projetos futuros, visto que nesta edição a maioria dos participantes são homens héteros, sendo Negra Li a única mulher presente no projeto. Essa diversificação iria agregar, pois trazer diferentes corporeidades que também vivenciam a favela, é trazer, também, outros olhares sobre a favela.
Com uma representação crítica sobre as questões sociais presentes na favela, a canção “Favela Vive 3” traz uma dura reflexão sobre o território e aborda assuntos importantes a serem discutidos. No entanto, seria enriquecedor diversificar, em termos de gênero, sexualidade e identidade de gênero, os MCs em projetos futuros, visto que nesta edição a maioria dos participantes são homens héteros, sendo Negra Li a única mulher presente no projeto. Essa diversificação iria agregar, pois trazer diferentes corporeidades que também vivenciam a favela, é trazer, também, outros olhares sobre a favela.


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