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O artigo logrou frutos, foi revisado e publicado com atualizações em uma nova versão, lançada em 2023, no The Geographical Journal. Intitulado "For a war yet to end: Shootouts and the production of tranquillity in massive Rio de Janeiro", o artigo apropria-se dos tiroteios como mais do que uma manifestação de violência ou de perigo. Apesar de sua natureza disruptiva, a depender de cada caso, os tiroteios são eventos que produzem significado, ordem e oportunidades, ao invés de ser, per se, episódios de caos e ordem. | O artigo logrou frutos, foi revisado e publicado com atualizações em uma nova versão, lançada em 2023, no The Geographical Journal. Intitulado "For a war yet to end: Shootouts and the production of tranquillity in massive Rio de Janeiro", o artigo apropria-se dos tiroteios como mais do que uma manifestação de violência ou de perigo. Apesar de sua natureza disruptiva, a depender de cada caso, os tiroteios são eventos que produzem significado, ordem e oportunidades, ao invés de ser, per se, episódios de caos e ordem. | ||
Ao introduzir sua escrita, Cavalcanti retrata sobre as adversidades linguísticas de encontrar uma tradução equivalente à palavra "tiroteio" na língua inglesa. O termo "shoutoout", ainda que utilizado, não consegue contemplar em sua plenitude as subjetividades particulares deste fenômeno pela ótica utilizada, já que nos Estados Unidos da América este vocábulo está mais voltado para casos de "drive-by shootings" e para referir-se a massacres em escolas. Assim, a linguagem inglesa não consegue lidar com o termo "tiroteios" e suas variáveis, como "tirinhos", que referem-se a trocas de tiros com duração curta de tempo ou com poucos disparos. | Ao introduzir sua escrita, Cavalcanti retrata sobre as adversidades linguísticas de encontrar uma tradução equivalente à palavra "tiroteio" na língua inglesa. O termo "shoutoout", ainda que utilizado, não consegue contemplar em sua plenitude as subjetividades particulares deste fenômeno pela ótica utilizada, já que nos Estados Unidos da América este vocábulo está mais voltado para casos de "drive-by shootings" e para referir-se a massacres em escolas. Assim, a linguagem inglesa não consegue lidar com o termo "tiroteios" e suas variáveis, como "tirinhos", que referem-se a trocas de tiros com duração curta de tempo ou com poucos disparos. Assim, no que tange a produção de significados, a autora elenca que um deles é a fronteira que divide certa parte "segura" da cidade para outra parte "perigosa", isto é, os tiroteios e suas recorrências em espaços de favela reforça que há a ordem de “tranquilidade” ou de mínima "segurança" em outras partes da cidade. Destarte, a autora defende o argumento de que a presença (ou o espectro) de tiroteios passou a ser uma força modeladora no desenvolvimento urbano do Rio de Janeiro sendo, portanto, fundamentais para compreender a urbanização massiva da cidade. | ||
A acumulação de tiroteios no espaço urbano ao longo do tempo produziu efeitos desiguais de sua presença espectral em todas as áreas de baixos rendimentos da cidade. Destarte, propõe a leitura da repetição de tiroteio, ou acúmulo de tiroteios, como forma de "presença-ausência" das práticas cotidianas de construção e habitação da cidade. Interpretando os tiroteios como produtores de atmosferas específicas de “guerra”, a autora parte de sua pesquisa etnográfica, realizada pela mesma desde 1990 no Rio de Janeiro e Região Metropolitana, e do acúmulo de relatórios e dados dos últimos 40 anos sobre a temática, para refletir sobre os tiroteios do Rio como fenômenos-chave que impulsionam o desenvolvimento urbano, suas temporalidades, incorporação na rotina e a espacialidade da atmosfera de "guerra" na cidade. | A acumulação de tiroteios no espaço urbano ao longo do tempo produziu efeitos desiguais de sua presença espectral em todas as áreas de baixos rendimentos da cidade. Destarte, propõe a leitura da repetição de tiroteio, ou acúmulo de tiroteios, como forma de "presença-ausência" das práticas cotidianas de construção e habitação da cidade. Interpretando os tiroteios como produtores de atmosferas específicas de “guerra”, a autora parte de sua pesquisa etnográfica, realizada pela mesma desde 1990 no Rio de Janeiro e Região Metropolitana, e do acúmulo de relatórios e dados dos últimos 40 anos sobre a temática, para refletir sobre os tiroteios do Rio como fenômenos-chave que impulsionam o desenvolvimento urbano, suas temporalidades, incorporação na rotina e a espacialidade da atmosfera de "guerra" na cidade. |
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