Guerra pacificação e militarização: mudanças entre as edições

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Só mais uma operação policial “normal”?
 
'''Só mais uma operação policial “normal”?'''


A seção discute a chegada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na Cidade de Deus e no Santa Marta, em novembro de 2008, sob a perspectiva inicial dos moradores e dos jovens envolvidos no comércio de drogas. A permanência no território surpreendeu os residentes, que esperavam uma incursão policial "normal", com trocas de tiros e a posterior saída das autoridades. No entanto, desta vez, a polícia permaneceu, desafiando as expectativas e gerando um cenário de incerteza para os moradores das favelas. A falta de informações claras sobre a duração e os objetivos das UPPs levou os moradores e traficantes a iniciar um processo de investigação e adaptação à nova realidade. Traficantes e moradores buscaram entender e se adaptar à presença policial contínua, alterando suas estratégias e relações no contexto do "legal-ilegal" das favelas cariocas.
A seção discute a chegada das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na Cidade de Deus e no Santa Marta, em novembro de 2008, sob a perspectiva inicial dos moradores e dos jovens envolvidos no comércio de drogas. A permanência no território surpreendeu os residentes, que esperavam uma incursão policial "normal", com trocas de tiros e a posterior saída das autoridades. No entanto, desta vez, a polícia permaneceu, desafiando as expectativas e gerando um cenário de incerteza para os moradores das favelas. A falta de informações claras sobre a duração e os objetivos das UPPs levou os moradores e traficantes a iniciar um processo de investigação e adaptação à nova realidade. Traficantes e moradores buscaram entender e se adaptar à presença policial contínua, alterando suas estratégias e relações no contexto do "legal-ilegal" das favelas cariocas.




O comércio varejista de drogas “pacificado”
 
'''O comércio varejista de drogas “pacificado”'''


A chegada da polícia à favela causou um enfraquecimento temporário do tráfico de drogas nas áreas ocupadas. Os envolvidos no comércio de drogas ilícitas na Cidade de Deus e no Santa Marta perceberam inicialmente que retomar o controle territorial completo não era viável devido à presença contínua e ao poder armado superior dos policiais. Assim, passaram a testar novas estratégias de ação para a sobrevivência do comércio de drogas, algumas dessas mudanças foram: a venda passou a ser móvel e menos sedentária, passaram a ocultar pequenas "cargas" em locais próximos, maior uso de menores de idade para as vendas e aumento de pessoas que atuavam como "olheiros" para monitorar a presença policial. A vigilância do tráfico também se ajustou, os traficantes desenvolveram novos métodos de mapeamento para controlar a presença policial variável e intensiva nos territórios pacificados.
A chegada da polícia à favela causou um enfraquecimento temporário do tráfico de drogas nas áreas ocupadas. Os envolvidos no comércio de drogas ilícitas na Cidade de Deus e no Santa Marta perceberam inicialmente que retomar o controle territorial completo não era viável devido à presença contínua e ao poder armado superior dos policiais. Assim, passaram a testar novas estratégias de ação para a sobrevivência do comércio de drogas, algumas dessas mudanças foram: a venda passou a ser móvel e menos sedentária, passaram a ocultar pequenas "cargas" em locais próximos, maior uso de menores de idade para as vendas e aumento de pessoas que atuavam como "olheiros" para monitorar a presença policial. A vigilância do tráfico também se ajustou, os traficantes desenvolveram novos métodos de mapeamento para controlar a presença policial variável e intensiva nos territórios pacificados.


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O “bom traficante”'''


O “bom traficante”
Em resumo, após a implantação das UPPs, iniciou-se um processo de adaptação crucial para os jovens envolvidos no tráfico de drogas das favelas. Esse período foi caracterizado pela necessidade de desenvolver uma nova sensibilidade perceptiva e estratégica para navegar na nova ecologia pós-"pacificação". Tanto traficantes quanto policiais passaram a utilizar intensamente dispositivos de monitoramento para mapear os territórios, de modo a substituir a antiga lógica de domínio territorial pela vigilância constante e pela capacidade de adaptação rápida. A dinâmica de confronto direto deu lugar a outras estratégias como as de dissimulação e armadilhas, onde a capacidade de antecipação e o jogo psicológico se tornaram cruciais. Esse contexto resultou em uma intensificação da tensão psicológica para os envolvidos, que agora precisavam manter-se mentalmente alertas em um ambiente onde a polícia estava infiltrada e conhecia o território. O fuzil dá lugar a outros aparelhos de mapeamento, como rádios, celulares e localização estratégica. Diante desses novos imperativos, a figura do “bom traficante” não se reduziria mais àquela que estivesse para o confronto ou para matar, mas passou a ser requerido a habilidade de permanecer ativo e vigilante, constantemente atento ao que ocorre no entorno. Assim, o “monitorar” se torna umas das peças fundamentais para a gestão do tráfico e de suas redefinições.


Em resumo, após a implantação das UPPs, iniciou-se um processo de adaptação crucial para os jovens envolvidos no tráfico de drogas das favelas. Esse período foi caracterizado pela necessidade de desenvolver uma nova sensibilidade perceptiva e estratégica para navegar na nova ecologia pós-"pacificação". Tanto traficantes quanto policiais passaram a utilizar intensamente dispositivos de monitoramento para mapear os territórios, de modo a substituir a antiga lógica de domínio territorial pela vigilância constante e pela capacidade de adaptação rápida. A dinâmica de confronto direto deu lugar a outras estratégias como as de dissimulação e armadilhas, onde a capacidade de antecipação e o jogo psicológico se tornaram cruciais. Esse contexto resultou em uma intensificação da tensão psicológica para os envolvidos, que agora precisavam manter-se mentalmente alertas em um ambiente onde a polícia estava infiltrada e conhecia o território. O fuzil dá lugar a outros aparelhos de mapeamento, como rádios, celulares e localização estratégica. Diante desses novos imperativos, a figura do “bom traficante” não se reduziria mais àquela que estivesse para o confronto ou para matar, mas passou a ser requerido a habilidade de permanecer ativo e vigilante, constantemente atento ao que ocorre no entorno. Assim, o “monitorar” se torna umas das peças fundamentais para a gestão do tráfico e de suas redefinições.




A rotinização da upp, o (re) fortalecimento do tráfico e a (re) formatação dos “arregos”
'''A rotinização da upp, o (re) fortalecimento do tráfico e a (re) formatação dos “arregos”'''


A seção discute os primeiros anos das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro. Inauguradas sem uma clara compreensão de seus resultados potenciais, as UPPs conseguiram angariar algum apoio devido à redução da violência letal e ao suporte financeiro de empresários e dos governos municipal, estadual e federal. Adicionalmente, a mídia enfatizou os sucessos do projeto, contribuindo para sua aclamação tanto entre os moradores das favelas quanto na opinião pública em geral, sendo visto como um "milagre".
A seção discute os primeiros anos das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro. Inauguradas sem uma clara compreensão de seus resultados potenciais, as UPPs conseguiram angariar algum apoio devido à redução da violência letal e ao suporte financeiro de empresários e dos governos municipal, estadual e federal. Adicionalmente, a mídia enfatizou os sucessos do projeto, contribuindo para sua aclamação tanto entre os moradores das favelas quanto na opinião pública em geral, sendo visto como um "milagre".
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A “crise” das UPPs
 
'''A “crise” das UPPs'''


De modo paradoxal, o ápice do projeto, representado pela ocupação das favelas maiores, marcou também o início da sua fase decadente. Problemas anteriormente considerados "resolvidos" ressurgiram nas favelas pacificadas, como trocas de tiros, aumento das mortes e a retomada do tráfico sedentário, o tráfico, a partir do afrouxamento policial passa gradualmente a confrontar a ação da polícia no território. A percepção de que o projeto estava perdendo eficácia intensificou-se a partir de 2012, com a implementação das UPPs na Rocinha, Complexo do Alemão e Penha. As unidades mais antigas começaram a distribuir policiais para reforçar as novas unidades, o que resultou em dificuldades na patrulha integral das áreas. Consequentemente, os traficantes cessaram de se ocultar e reassumiram seu domínio nas favelas. Dessa forma, com o aumento das trocas de tiros e mortes, os espaços anteriormente “pacificados” necessitaram de reforços policiais, o que suscitou, em certa medida, o retorno das operações.
De modo paradoxal, o ápice do projeto, representado pela ocupação das favelas maiores, marcou também o início da sua fase decadente. Problemas anteriormente considerados "resolvidos" ressurgiram nas favelas pacificadas, como trocas de tiros, aumento das mortes e a retomada do tráfico sedentário, o tráfico, a partir do afrouxamento policial passa gradualmente a confrontar a ação da polícia no território. A percepção de que o projeto estava perdendo eficácia intensificou-se a partir de 2012, com a implementação das UPPs na Rocinha, Complexo do Alemão e Penha. As unidades mais antigas começaram a distribuir policiais para reforçar as novas unidades, o que resultou em dificuldades na patrulha integral das áreas. Consequentemente, os traficantes cessaram de se ocultar e reassumiram seu domínio nas favelas. Dessa forma, com o aumento das trocas de tiros e mortes, os espaços anteriormente “pacificados” necessitaram de reforços policiais, o que suscitou, em certa medida, o retorno das operações.




Considerações Finais
 
'''Considerações Finais'''


As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) foram implementadas no Rio de Janeiro com o propósito de reduzir os índices de homicídios e violência, em vistas de assegurar a realização de grandes eventos e atrair investimentos internacionais, especialmente para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. A implementação das UPPs exigiu uma adaptação criativa tanto por parte dos moradores quanto do tráfico de drogas, uma vez que, diferentemente das operações policiais tradicionais, caracterizadas por incursões temporárias, a presença da polícia se tornou permanente, o que alterou a dinâmica local. Em resposta, o tráfico adotou novas estratégias de gestão para continuar suas atividades, tornando-as mais discretas e móveis, a fim de evitar a detecção pela polícia. O antigo confronto direto se transformou em um jogo complexo de gato-rato, no qual tanto traficantes quanto policiais usavam diferentes tecnologias e táticas em seus exercícios.
As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) foram implementadas no Rio de Janeiro com o propósito de reduzir os índices de homicídios e violência, em vistas de assegurar a realização de grandes eventos e atrair investimentos internacionais, especialmente para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. A implementação das UPPs exigiu uma adaptação criativa tanto por parte dos moradores quanto do tráfico de drogas, uma vez que, diferentemente das operações policiais tradicionais, caracterizadas por incursões temporárias, a presença da polícia se tornou permanente, o que alterou a dinâmica local. Em resposta, o tráfico adotou novas estratégias de gestão para continuar suas atividades, tornando-as mais discretas e móveis, a fim de evitar a detecção pela polícia. O antigo confronto direto se transformou em um jogo complexo de gato-rato, no qual tanto traficantes quanto policiais usavam diferentes tecnologias e táticas em seus exercícios.
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