Guerra pacificação e militarização: mudanças entre as edições

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O “bom traficante”'''
'''O “bom traficante”'''


Em resumo, após a implantação das UPPs, iniciou-se um processo de adaptação crucial para os jovens envolvidos no tráfico de drogas das favelas. Esse período foi caracterizado pela necessidade de desenvolver uma nova sensibilidade perceptiva e estratégica para navegar na nova ecologia pós-"pacificação". Tanto traficantes quanto policiais passaram a utilizar intensamente dispositivos de monitoramento para mapear os territórios, de modo a substituir a antiga lógica de domínio territorial pela vigilância constante e pela capacidade de adaptação rápida. A dinâmica de confronto direto deu lugar a outras estratégias como as de dissimulação e armadilhas, onde a capacidade de antecipação e o jogo psicológico se tornaram cruciais. Esse contexto resultou em uma intensificação da tensão psicológica para os envolvidos, que agora precisavam manter-se mentalmente alertas em um ambiente onde a polícia estava infiltrada e conhecia o território. O fuzil dá lugar a outros aparelhos de mapeamento, como rádios, celulares e localização estratégica. Diante desses novos imperativos, a figura do “bom traficante” não se reduziria mais àquela que estivesse para o confronto ou para matar, mas passou a ser requerido a habilidade de permanecer ativo e vigilante, constantemente atento ao que ocorre no entorno. Assim, o “monitorar” se torna umas das peças fundamentais para a gestão do tráfico e de suas redefinições.
Em resumo, após a implantação das UPPs, iniciou-se um processo de adaptação crucial para os jovens envolvidos no tráfico de drogas das favelas. Esse período foi caracterizado pela necessidade de desenvolver uma nova sensibilidade perceptiva e estratégica para navegar na nova ecologia pós-"pacificação". Tanto traficantes quanto policiais passaram a utilizar intensamente dispositivos de monitoramento para mapear os territórios, de modo a substituir a antiga lógica de domínio territorial pela vigilância constante e pela capacidade de adaptação rápida. A dinâmica de confronto direto deu lugar a outras estratégias como as de dissimulação e armadilhas, onde a capacidade de antecipação e o jogo psicológico se tornaram cruciais. Esse contexto resultou em uma intensificação da tensão psicológica para os envolvidos, que agora precisavam manter-se mentalmente alertas em um ambiente onde a polícia estava infiltrada e conhecia o território. O fuzil dá lugar a outros aparelhos de mapeamento, como rádios, celulares e localização estratégica. Diante desses novos imperativos, a figura do “bom traficante” não se reduziria mais àquela que estivesse para o confronto ou para matar, mas passou a ser requerido a habilidade de permanecer ativo e vigilante, constantemente atento ao que ocorre no entorno. Assim, o '''“monitorar”''' se torna umas das peças fundamentais para a gestão do tráfico e de suas redefinições.




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A seção discute os primeiros anos das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro. Inauguradas sem uma clara compreensão de seus resultados potenciais, as UPPs conseguiram angariar algum apoio devido à redução da violência letal e ao suporte financeiro de empresários e dos governos municipal, estadual e federal. Adicionalmente, a mídia enfatizou os sucessos do projeto, contribuindo para sua aclamação tanto entre os moradores das favelas quanto na opinião pública em geral, sendo visto como um "milagre".
A seção discute os primeiros anos das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de Janeiro. Inauguradas sem uma clara compreensão de seus resultados potenciais, as UPPs conseguiram angariar algum apoio devido à redução da violência letal e ao suporte financeiro de empresários e dos governos municipal, estadual e federal. Adicionalmente, a mídia enfatizou os sucessos do projeto, contribuindo para sua aclamação tanto entre os moradores das favelas quanto na opinião pública em geral, sendo visto como um "milagre".


No entanto, mesmo nesses estágios iniciais de "pacificação", surgiram sinais de um retorno gradual da ação dos traficantes, isto é, um possível (re)fortalecimento do tráfico de drogas diante de suas novas estratégias de gestão. Rumores e relatos de moradores indicavam que traficantes estavam se rearmando e retomando o controle em certas localidades, o que gerou, à posteriori, questionamentos sobre a eficácia do modelo das UPPs. Conforme o declínio [das UPPs] avançava, surgiram opiniões divergentes quanto ao seu desenrolar. Para os moradores ocorreu um processo de flexibilização do policiamento que, segundo eles, estava ligado “a diversas modalidades de negociações financeiras entre policiais e traficantes” (p.204). Essas negociações se caracterizariam por propinas e novas formatações dos “arregos”, a partir do que seria acordado ocorreria um processo de flexibilização da ação da polícia no local. Em síntese, houveram redefinições nas negociações de “mercadorias políticas” (Misse, 2007) nesse contexto das favelas pacificadas.
No entanto, mesmo nesses estágios iniciais de "pacificação", surgiram sinais de um retorno gradual da ação dos traficantes, isto é, um possível (re)fortalecimento do tráfico de drogas diante de suas novas estratégias de gestão. Rumores e relatos de moradores indicavam que traficantes estavam se rearmando e retomando o controle em certas localidades, o que gerou, à posteriori, questionamentos sobre a eficácia do modelo das UPPs. Conforme o declínio [das UPPs] avançava, surgiram opiniões divergentes quanto ao seu desenrolar. Para os moradores ocorreu um processo de flexibilização do policiamento que, segundo eles, estava ligado “a diversas modalidades de negociações financeiras entre policiais e traficantes” (p.204). Essas negociações se caracterizariam por propinas e novas formatações dos “arregos”, a partir do que seria acordado ocorreria um processo de flexibilização da ação da polícia no local. Em síntese, houveram redefinições nas '''negociações''' de “mercadorias políticas” (Misse, 2007) nesse contexto das favelas pacificadas.




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