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<p style="text-align: center;">Material de pesquisa do Projeto do Campus Fiocruz da Mata Atlântica em parceria com a Cooperação Social, gentilmente cedido ao '''Dicionário de Favelas Marielle Franco'''.</p> <p style="text-align: center;"> </p> | |||
== Sobre o projeto == | |||
A entrevista faz parte do projeto "Histórias, Memórias e Oralidades da luta social por terra e moradia na região de Jacarepaguá de 1960 a 2016", desenvolvido pelo Campus Fiocruz da Mata Atlântica em parceria com a Cooperação Social. Neste episódio, a conversa é com João Marco, diretor do CPJABA . Ele foi entrevistado no Campus Fiocruz Mata Atlântica, em 2015. | |||
== Entrevista == | |||
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== Transcrição da entrevista == | |||
Luiz Alberto de Jesus 48 anos aposentado como comerciário. Em 2004 eu peguei uma bactéria chamada sarcohidrose fiquei encostado. E minha esposa trabalhava na ABOSEP. Associação Beneficente Estrada da Paz. Ela me viu muito frágil e me convidou para participar. Na época era o Sr. João Batista presidente e a Sandra Rosa Vice. A visão da ABOSEP era trabalhar com as famílias, os idosos, e na gestão dos esportes e a luta de saúde APJ – Área de Planejamento de Jacarepaguá. | |||
Eu vim do Curicica que era chamado de roça. Era zona rural. | |||
Do Novo Mundo até vargem Grande era roça. Para comprar alguma coisa, tinha que ir a Taquara. | |||
Eu vim morar na Cidade de Deus em 1985, como morador antes de participar de instituições, agente vai vendo algumas mudanças os moradores precisando de espaços, ir melhorando suas casas. | |||
Na época tinha o Júlio Bugoricin Imóveis , Sergio Dourado. dos Irmãos Araújo, e todos pleiteavam a Cidade de Deus, para tirar a Cidade de Deus – remover a Cidade de Deus para construírem os impérios deles. De 70/80. | |||
E um relato que soube a poucos anos atrás é que a CDD foi construída com um contrato de 50 anos, este contrato eu não tenho como comprovar. Os idosos falam sobre isto. A especulação imobiliária atua até hoje. GARFI – aqui do lado na TREZE, houve uma área desmatada, tem um galpão mas ainda não fizeram nada. Isto é agora. | |||
Retomando os anos 70 e 80 a Cidade de Deus nasceu com uma estrutura, escolas, embora até hoje só temos uma escola de ensino Médio, posto de saúde, usinas de tratamento de esgoto, e foi se transformando. | |||
E muitos moradores que estão descrentes até hoje. na área das triagens uma pequena casinha de parede e meia dos dois lados – já fizeram obras para aumentar e fizeram o segundo andar. São mudanças. Você vê em determinadas vielas o morador levando sua casa, esticando até a calçada – ampliando tanto horizontal quanto na vertical. | |||
O poder público, agora no final, depois da pacificação – agora quer atuar, mas impedindo as instituições – em vez de buscar as instituições para uma parceria, eles fazem do jeito que eles querem. Não param para perguntar como pode ser feito. | |||
Porque na luta do Comitê Comunitário, dentro da sua visão, que trabalha por politicas públicas estruturantes – plano de desenvolvimento que foi criado pelo Comitê justamente para o poder público fazer. Mas estamos para monitorar. Tem que perguntar. | |||
Já está surgindo um assunto, que vão construir um shopping aqui do lado. | |||
E tudo que estão propondo fazer, nós já tínhamos proposto, quando tivemos uma parceria com o arquiteto Jauregui. | |||
E estão construindo os prédios de “Minha Casa Minha Vida” para tirar os moradores das triagens. | |||
A Cidade de Deus é uma área Estadual, com partes Municipais. O Estado e Município se omitiram este tempo todo. | |||
Antigamente a CDD foi alvo da ambição da especulação imobiliária, para ampliar o aeroporto de Jacarepaguá. A Cidade de Deus está na rota e o assunto não foi a diante. Mais fica a preocupação do que ainda pode acontecer. | |||
Não ter direito – e ver os seus direitos violados. | |||
Educação – às vezes não temos professores preparados para interferir nesta realidade. | |||
Posto de Saúde – o direitor do Posto já está caducando de tanto tempo, e o Secretário Municipal de Saúde, não troca. Ele não absorve nenhuma campanha. | |||
Moradia – muita gente precisando de casa. Na Rocinha2 tivemos a construção das casinhas, e do lado uma favela, com barracos no Pântano, chamado Mangueirinha. | |||
Temos três áreas de triagem: Barro Vermelho perto da Linha Amarela, a Triagem do 15 perto Prezunic e a 13 perto do Rio. Anos lutando por moradia digna. São direitos violados. Até agora o Estado não fez nada. Estão lá até o inicio esperando o projeto para ter moradia digna. Sai família, morrem pessoas, a nada se modifica. São galpões, dormitórios, que serviu no inicio da construção Civil na época da construção. | |||
Saúde | |||
Morando desta forma, não é possível ter saúde. No inicio, na CDD em casa rua nas calçadas tinha uma árvore. Isto é saúde. E elas purificavam o ar, refrescavam as casas. Hoje não tem nenhuma árvore. As que têm são as que os moradores plantaram em seus quintais. | |||
Tem 6 meses que eu estou tentando plantar árvores na porta de minha casa – mas tem sempre alguém que tira. Saúde é ter moradia digna com toda estrutura. Com esgoto. Aqui na maioria da casas, os tampões de esgoto estão dentro de casa. Os moradores aumentaram as suas casas e os esgotos ficam dentro de casa. | |||
Eu fui visitar uma família ontem e quando o dono levantou o tapete, o esgoto vazava no quarto. | |||
As filhas estavam doentes e eles não sabiam o motivo. André, Marcia, e a filha ........ | |||
E não adianta acusar os moradores. | |||
O sistema foi construído errado. É preciso haver monitoramento. Isto é prevenção e isto é saúde. | |||
O que me move. É a vontade de lutar, de motivar os outros para lutar, de ter uma casa digna, que ele possa chegar do trabalho, para ficar com seus filhos. | |||
É saber que eu posso lutar e estimular outros para lutar também. Porque está luta não é de curto ou médio prazo. É de longo prazo. Os desafios são tão grandes. Quanto mais o tempo passa, mais tempo eu quero lutar- pela saúde, pela educação, moradia e tudo que move esse bairro que é a Cidade de Deus. | |||
Neste momento a ABOSEP- participava do Comitê Comunitário da Cidade de Deus- e tinha várias instituições locais- com foco das políticas públicas, educação, saúde, moradia, esporte lazer. Eu me integrei também na luta do Comitê Comunitário. | |||
Hoje eu também sou sócio fundador da Casa de Cultura- que também tem o mesmo trabalho, com crianças, adolescentes, artesanato, e informática. | |||
Dentro do Comitê- participamos em parceria com a Fiocruz de participar deste projeto- sobre a história das lutas pela moradia. | |||
Minha história com a Cidade de Deus | |||
Minha avó, dona Josefa, tinha um orfanato, parte do Colégio das Freiras- no pechincha perto do Planalto. | |||
E foi transferido para a Cidade de Deus, onde hoje é o CIEP Joao Batista. Ali tinha um casarão antigo- pertencia ao Barão. | |||
Mas eu morava na Curicica. Em 2004, quando comecei a participar da ABOSEP- eu vi que antes eu já trabalhava com o social. | |||
Eu ajudava no orfanato, levava e trazia crianças do orfanato, levar para os colégios. Acolher filhos de mães doentes. | |||
Eu não gosto quando me chama de liderança. Eu sou gestor social. | |||
No Comitê- minha primeira experiência na moradia- foi a luta de habitação. | |||
Foi uma luta árdua, dolorosa, dependia da prefeitura. Era a construção de 618 casas, na Rocinha 2. Uma área pantanosa. | |||
A prefeitura não quis fazer a infraestrutura. | |||
Nós conseguimos a verba em Brasília para construir essas 618 casas. A prefeitura se negou a fazer obras de infraestrutura- foi necessário fazer o aterramento- hoje às casas estão rachando- mas porque era pântano e é acomodação do solo. | |||
Tinha 3 pessoas do comitê fazendo o serviço social- cadastramento. | |||
O modelo não é o original. Precisou ser modificado. Para fazer a infraestrutura do terreno, foi preciso modificar o projeto das casas. | |||
Precisou de muito aterro, bate estaca. | |||
Em 2007, pela SENASP, como legado social do PAN Americano. Eu fiz trabalho de revitalização de praças- praça XV. | |||
Mas aí os traficantes começaram a organizar e definir quem podia usar. E eu tive que sair. | |||
Atualmente ela esta recebendo mais obras, e em outras praças da CDD. | |||
Eu nasci em 65. Não participei do inicio da CDD. Mas ouvi muitas histórias das famílias removidas. A maioria veio da zona sul, chegaram aqui- os que não tinham dinheiro para pagar as 240 prestações- se houvesse atraso- vinha 1 carro da prefeitura e removia os moradores para outro local. | |||
E aqui tinha a CEHABE- do Estado. | |||
As pessoas às vezes conseguiam com alguma ajuda trocar sua moradia- | |||
- casas. As triagens que eram dormitório para os trabalhadores da obra. | |||
A Cidade de Deus era para funcionários públicos naquela época. | |||
As duas coisas- os que estavam previsto, mas as enchentes de 66- fizeram o Lacerda, definir por trazer as pessoas para a CDD. | |||
E as pessoas vieram em construção- vieram pra cá- Taquara e Praça Seca. | |||
A moradia passar a ser uma luta- desde o momento que eu passo a acompanhar, dentro do Comitê- essa luta por moradia. Eu ouvia falar. | |||
Foi a luta do Comitê Comunitário que me ajudou a prestar atenção nestas questões. Despertou-me. Eu vi um fantasma que eu nunca tinha visto. E aquilo foi um choque. | |||
A situação desumana em que as pessoas viviam nos barracos- córrego, temos que nos juntar e fazer alguma coisa para melhorar a vida das pessoas. | |||
E com as técnicas do serviço social, nós nos unimos e enfrentamos esta questão. | |||
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