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Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco | Autoria: Equipe do Dicionário de Favelas Marielle Franco | ||
O empreendedorismo favelado, ou empreendedorismo de/em favelas, popularmente designa o fenômeno do empreendedorismo social focado em iniciativas e/ou lideranças vinculadas à realidade de favelas e periferias. Tal termo tem sido crescentemente debatido no Brasil e no mundo, tanto conceitualmente, a partir de pesquisas no campo das Ciências Sociais, quanto em termos de seus desdobramentos políticos e sociais, na grande mídia e nos diversos meios de comunicação. | O empreendedorismo favelado, ou empreendedorismo de/em favelas, popularmente designa o fenômeno do empreendedorismo social focado em iniciativas e/ou lideranças vinculadas à realidade de favelas e periferias. Tal termo tem sido crescentemente debatido no Brasil e no mundo, tanto conceitualmente, a partir de pesquisas no campo das Ciências Sociais, quanto em termos de seus desdobramentos políticos e sociais, na grande mídia e nos diversos meios de comunicação. | ||
[[Arquivo:Expo Favela.jpg|centro|miniaturadaimagem|386x386px|Foto: Expo Favela 2022 (Folha/Uol)]] | |||
== Contra a lógica da carência, a visão das potências == | == Contra a lógica da carência, a visão das potências == | ||
Defensores dessa bandeira apostam na lógica do empreendedorismo como parte de um amplo esforço de ressignificação da imagem da favela como territórios de múltiplas potencialidades, em oposição ao senso comum que a associa à precariedade, tragédia e ausência de políticas públicas. Não obstante, os principais traços que demarcam ideologicamente as estratégias alavancadas por esses atores é a construção de espaços sobre o tema na grande mídia nacional e a realização de projetos e grandes eventos sobre empreendedorismo de favelas com o apoio de instituições financeiras, grandes empresas e investidores ligados ao grande capital. | Defensores dessa bandeira apostam na lógica do empreendedorismo como parte de um amplo esforço de ressignificação da imagem da favela como territórios de múltiplas potencialidades, em oposição ao senso comum que a associa à precariedade, tragédia e ausência de políticas públicas. Não obstante, os principais traços que demarcam ideologicamente as estratégias alavancadas por esses atores é a construção de espaços sobre o tema na grande mídia nacional e a realização de projetos e grandes eventos sobre empreendedorismo de favelas com o apoio de instituições financeiras, grandes empresas e investidores ligados ao grande capital. | ||
Preto Zezé e Edu Lyra são empreendedores de favela e grandes entusiastas do conceito que têm colunas fixas, respectivamente, na Folha de São Paulo e no Jornal O Globo. Ao mesmo tempo, diversos projetos de capacitação de empreendedores e a primeira Expo Favela - feira de negócios que teve empreendedores e startups de favelas como expositores - têm sido realizados a partir do financiamento de instituições como o Nubank, Grupo Carrefour Brasil, Gol, Ifood, Global Data Bank, etc. Cabe ressaltar que os dois patrocinadores master do evento realizado em 2022 estiveram anteriormente ligados a episódios graves de violência racial e racismo institucional, que repercutiram negativamente na opinião pública e motivaram retratação e ações de mitigação de danos à imagem dessas empresas. | Preto Zezé e Edu Lyra são empreendedores de favela e grandes entusiastas do conceito que têm colunas fixas, respectivamente, na Folha de São Paulo e no Jornal O Globo. Ao mesmo tempo, diversos projetos de capacitação de empreendedores e a primeira Expo Favela (São Paulo/2022) - feira de negócios que teve empreendedores e startups de favelas como expositores - têm sido realizados a partir do financiamento de instituições como o Nubank, Grupo Carrefour Brasil, Gol, Ifood, Global Data Bank, etc. Cabe ressaltar que os dois patrocinadores master do evento realizado em 2022 estiveram anteriormente ligados a episódios graves de violência racial<ref>https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2020/11/20/homem-negro-e-espancado-ate-a-morte-em-supermercado-do-grupo-carrefour-em-porto-alegre.ghtml</ref> e racismo institucional<ref>https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/10/21/nubank-vai-de-queridinho-a-acusado-de-racismo-apos-fala-de-cofundadora.ghtml</ref>, que repercutiram negativamente na opinião pública e motivaram retratação e ações de mitigação de danos à imagem dessas empresas. | ||
Não obstante, na perspectiva de grupos de empreendedores de favela, que concebem e dinamizam essa rede em ascensão no cenário nacional, o apoio do setor privado ao empreendedorismo favelado é uma grande oportunidade de visibilizar as diversas iniciativas locais e colocá-las em contato com investidores do asfalto, visando superar o estigma da “carência”:<blockquote>“A maior parte dos 17,1 milhões de moradores de favela no Brasil tem, tinha ou quer ter um negócio. Isso é o que apontou uma pesquisa do Data Favela que foi divulgada nesta sexta-feira, 15, na primeira edição da Expo Favela (...) A pesquisa demonstrou que 76% dos moradores de favela se enquadram nessa característica e 50% deles se consideram empreendedores. Quatro em cada dez moradores de comunidades (41%) têm um negócio próprio. “Isso mostra uma oportunidade gigantesca”, disse Renato Meirelles, fundador do Data Favela... (Veja, 15 de abril de 2022)</blockquote>Nomes como Celso Athayde (Expo Favela e Favela Holding), Preto Zezé (Central Única das Favelas - CUFA), Edu Lyra (Gerando Falcões) e Gilson Rodrigues (G10 das Favelas e G10Bank) são algumas das lideranças da sociedade civil organizada que defendem que as favelas e periferias são espaços de empreendedorismo por excelência, uma vez que seus moradores sempre precisaram “produzir a própria subsistência”, através das mais diversas ocupações e trabalhos. <blockquote>“Engana-se quem ainda cai no lugar-comum da carência. Já provamos que somos potência em vários aspectos (...) Hoje falamos por nós mesmos, na nossa diversidade social, cultural, religiosa e política, nos representamos e manifestamos nossa existência. E, com múltiplas habilidades, produzimos um olhar sobre nós, sobre o mundo que nos cerca, e elaboramos nossa visão de sociedade. Rompemos a barreira do debate econômico, pois nesse feudo, só "especialistas" falavam, mesmo com a favela gerando R$ 120 bilhões em poder de consumo, riqueza, por sua força de trabalho (...)” (Preto Zezé, “O encontro de dois Brasis”, Folha de São Paulo, 2 de abril de 2022)</blockquote> | Não obstante, na perspectiva de grupos de empreendedores de favela, que concebem e dinamizam essa rede em ascensão no cenário nacional, o apoio do setor privado ao empreendedorismo favelado é uma grande oportunidade de visibilizar as diversas iniciativas locais e colocá-las em contato com investidores do asfalto, visando superar o estigma da “carência”:<blockquote>“A maior parte dos 17,1 milhões de moradores de favela no Brasil tem, tinha ou quer ter um negócio. Isso é o que apontou uma pesquisa do Data Favela que foi divulgada nesta sexta-feira, 15, na primeira edição da Expo Favela (...) A pesquisa demonstrou que 76% dos moradores de favela se enquadram nessa característica e 50% deles se consideram empreendedores. Quatro em cada dez moradores de comunidades (41%) têm um negócio próprio. “Isso mostra uma oportunidade gigantesca”, disse Renato Meirelles, fundador do Data Favela... (Veja, 15 de abril de 2022)</blockquote>Nomes como Celso Athayde (Expo Favela e Favela Holding), Preto Zezé (Central Única das Favelas - CUFA), Edu Lyra (Gerando Falcões) e Gilson Rodrigues (G10 das Favelas e G10Bank) são algumas das lideranças da sociedade civil organizada que defendem que as favelas e periferias são espaços de empreendedorismo por excelência, uma vez que seus moradores sempre precisaram “produzir a própria subsistência”, através das mais diversas ocupações e trabalhos. <blockquote>“Engana-se quem ainda cai no lugar-comum da carência. Já provamos que somos potência em vários aspectos (...) Hoje falamos por nós mesmos, na nossa diversidade social, cultural, religiosa e política, nos representamos e manifestamos nossa existência. E, com múltiplas habilidades, produzimos um olhar sobre nós, sobre o mundo que nos cerca, e elaboramos nossa visão de sociedade. Rompemos a barreira do debate econômico, pois nesse feudo, só "especialistas" falavam, mesmo com a favela gerando R$ 120 bilhões em poder de consumo, riqueza, por sua força de trabalho (...)” (Preto Zezé, “O encontro de dois Brasis”, Folha de São Paulo, 2 de abril de 2022)</blockquote> | ||
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== Referências == | == Referências == | ||
Colunas de Preto Zezé na Folha de São Paulo: <nowiki>https://www1.folha.uol.com.br/colunas/preto-zeze/2022/04/o-encontro-de-dois-brasis.shtml</nowiki> | |||
<nowiki>https://www1.folha.uol.com.br/colunas/preto-zeze/2022/04/um-encontro-de-negocios-entre-a-favela-e-o-asfalto.shtml</nowiki> | |||
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo. Boitempo editorial, 2017. | |||
MACHADO, Luiz Antônio. Da informalidade à empregabilidade (reorganizando a dominação no mundo do trabalho). Caderno CRH, v. 15, n. 37, 2002. | |||
MCFARLANE, Colin. The entrepreneurial slum: Civil society, mobility and the co-production of urban development. Urban Studies, v. 49, n. 13, p. 2795-2816, 2012. | |||
RIBEIRO, Luiz César e MORAES, Demóstenes. A Nova Razão da Favela: da cidadania ao empreendedorismo, Observatório das Metrópoles: artigos semanais, 21 de abril de 2022. |