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== A nova fronteira do empreendedorismo urbano == | == A nova fronteira do empreendedorismo urbano == | ||
Como pano de fundo da emergência do empreendedorismo favelado, Colin McFarlane, na obra “The Entrepreneurial Slum: Civil Society, Mobility and the Co-production of Urban Development” (2012) aponta que, desde os anos 1980, a inclusão pelo mercado tem sido defendida como o meio de desenvolvimento urbano mais efetivo, em lugar de perspectivas de transformação política e econômica radical. Tal | Como pano de fundo da emergência do empreendedorismo favelado, Colin McFarlane, na obra “The Entrepreneurial Slum: Civil Society, Mobility and the Co-production of Urban Development” (2012) aponta que, desde os anos 1980, a inclusão pelo mercado tem sido defendida como o meio de desenvolvimento urbano mais efetivo, em lugar de perspectivas de transformação política e econômica radical. Tal concepção celebra a prevalência dos “poucos” em lugar dos “muitos”, desdobrando-se num disciplinamento social e financeiro em que prevalece a lógica do “faça você mesmo”, enquanto, politicamente, exaltam-se formas de autogestão que transferem a responsabilidade do Estado para os grupos de base comunitária. | ||
O empreendedorismo urbano é marcado pela competição agressiva por capitais entre cidades, pela crescente influência do setor privado na política urbana e pela implementação de políticas fiscais que deixaram de ser focadas na distribuição e no investimento público para focar-se na redução de taxas que permitam que os empreendedores (businessmen) aumentem suas margens de lucro. Essa lógica tem historicamente desembocado num crescente marketing urbano; em planos de renovação de distritos, zonas portuárias e regiões degradadas; na disputa entre cidades para sediarem grandes eventos mundiais; e na mobilidade de uma certa “classe criativa” entre os grandes centros urbanos. Entretanto, o principal produto do empreendedorismo urbano são as políticas de desalojamento e despossessão violenta dos pobres, “inservíveis” e inadequados - o que se manifesta na proliferação de enclaves, guetos, e de processos de gentrificação.<blockquote>“O outro lado deste dispositivo neoliberal são as narrativas e políticas que criminalizam os movimentos sociais que lutam por direitos e silenciam os contestadores da ordem urbana excludente que buscam evidenciar a formação de uma crise urbana estrutural, com o colapso da função da cidade na provisão das condições ligadas às necessidades de reprodução da vida biológica, social e individual, afetando mais severamente as condições de vida nas favelas e outros assentamentos precários nas cidades” (Luiz César Ribeiro e Demóstenes Moraes)</blockquote>Em paralelo a isso, McFarlane identifica que as favelas (ou assentamentos urbanos informais) não são espaços excluídos das estratégias de empreendedorismo, mas têm se transformado, cada vez mais, numa fronteira chave da produção do empreendedorismo urbano contemporâneo. Segundo ele, ao destacar o potencial dos favelados e faveladas como sujeitos empreendedores, o empreendedorismo de favelas está renomeando a pobreza enquanto capital social e econômico. | O empreendedorismo urbano é marcado pela competição agressiva por capitais entre cidades, pela crescente influência do setor privado na política urbana e pela implementação de políticas fiscais que deixaram de ser focadas na distribuição e no investimento público para focar-se na redução de taxas que permitam que os empreendedores (businessmen) aumentem suas margens de lucro. Essa lógica tem historicamente desembocado num crescente marketing urbano; em planos de renovação de distritos, zonas portuárias e regiões degradadas; na disputa entre cidades para sediarem grandes eventos mundiais; e na mobilidade de uma certa “classe criativa” entre os grandes centros urbanos. Entretanto, o principal produto do empreendedorismo urbano são as políticas de desalojamento e despossessão violenta dos pobres, “inservíveis” e inadequados - o que se manifesta na proliferação de enclaves, guetos, e de processos de gentrificação.<blockquote>“O outro lado deste dispositivo neoliberal são as narrativas e políticas que criminalizam os movimentos sociais que lutam por direitos e silenciam os contestadores da ordem urbana excludente que buscam evidenciar a formação de uma crise urbana estrutural, com o colapso da função da cidade na provisão das condições ligadas às necessidades de reprodução da vida biológica, social e individual, afetando mais severamente as condições de vida nas favelas e outros assentamentos precários nas cidades” (Luiz César Ribeiro e Demóstenes Moraes)</blockquote>Em paralelo a isso, McFarlane identifica que as favelas (ou assentamentos urbanos informais) não são espaços excluídos das estratégias de empreendedorismo, mas têm se transformado, cada vez mais, numa fronteira chave da produção do empreendedorismo urbano contemporâneo. Segundo ele, ao destacar o potencial dos favelados e faveladas como sujeitos empreendedores, o empreendedorismo de favelas está renomeando a pobreza enquanto capital social e econômico. |