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O autor, não somente neste texto, mas ao longo de sua pesquisa, inclusive em artigos que compõem o mesmo livro referenciado, enfatiza a <u>simultaneidade</u> das formas de obtenção de renda da classe trabalhadora. A simultaneidade das formas de trabalho é obtida pela ausência de uma regulamentação do mesmo e são esses cenários que combinam o trabalho assalariado com o trabalho doméstico, o trabalho a domicílio ou aquele feito por conta própria. Tendo o objetivo de multiplicar o número de membros ativos economicamente na família em prol da melhora econômica daquela unidade familiar. | O autor, não somente neste texto, mas ao longo de sua pesquisa, inclusive em artigos que compõem o mesmo livro referenciado, enfatiza a <u>simultaneidade</u> das formas de obtenção de renda da classe trabalhadora. A simultaneidade das formas de trabalho é obtida pela ausência de uma regulamentação do mesmo e são esses cenários que combinam o trabalho assalariado com o trabalho doméstico, o trabalho a domicílio ou aquele feito por conta própria. Tendo o objetivo de multiplicar o número de membros ativos economicamente na família em prol da melhora econômica daquela unidade familiar. | ||
Como consequência, as jornadas de trabalho, sejam elas advindas dos arranjos de trabalhos fixos como de trabalhos "autônomos", acabam por conter muito mais horas do que as previstas no trabalho assalariado. por exemplo, por isso se torna fundamental contar com o auxílio de membros da casa e até de familiares que migram de suas cidades de origem para ajudar a compor tais jornadas. Já há cinquenta anos atrás, Machado aponta conceitualmente <u>práticas que acompanham unidades familiares nos dias atuais</u>, tendo em sua potência um olhar sobre como e quais são as estratégias de vida que eles buscam para lidar com a economia na sua forma cotidiana. | |||
Já o texto de Motta e Neiburg (2023) joga luz à economia cotidiana das favelas no Rio de Janeiro, fortemente impactada pela '''pandemia do novo coronavírus e pela crise econômica''' que assolou o Brasil na última década. Apesar de um cenário temporalmente distante do relatado por Luiz Antônio Machado, é possível notar no trabalho de Eugênia Motta e Federico Neiburg como famílias da classe trabalhadora em contextos periféricos continuam a mobilizar diferentes estratégias de vida e jornadas de trabalho para a ''reprodução da vida cotidiana''. O texto destes autores enfatiza não só as combinações nas formas fazer a renda, mas nas maneiras como as casas são geridas para que as estratégias de vida sejam alcançadas. São gestões que adentram na alimentação dos membros da família, no cuidado de crianças e pessoas mais velhas, na busca por melhores preços nos supermercados, entre outros aspectos. Por isso, o trabalho se mostra bastante rico e aprofundado, enfatizando como questões que atravessam diferentes camadas sociais, como uma pandemia, não chegam nelas enquanto uma avalanche que provoca os mesmos efeitos em todas as casas, mas são percebidas e encaradas de maneiras diversas. | |||
Uma das questões suscitadas em debate acerca dos textos trabalhados nesta aula foi sobre a <u>inflação</u> enquanto um conceito que não é dado, mas sim construído socialmente, no sentido de que não deve ser encarado como um fenômeno natural, uma espécie de terremoto, mas sim por um constructo de indicadores sobre os preços que combina uma série de fatores e não possui efeitos automáticos em toda a população. Assim, embora inflação possa ser um termo comentado na vida cotidiana, seus ecos são sentidos a partir de outras narrativas, como a do aumento de preços nos itens mais importantes para o dia a dia das famílias numa favela como a Maré, por exemplo. O preço dos alimentos torna-se, assim, um dos grandes pontos sensíveis da pesquisa analisada por Eugênia Motta e Federico Neiburg. Diante de uma percepção generalizada de que os preços dos alimentos estavam bastante superiores ao usual, uma série de estratégias e adaptações é levada a cabo pelas famílias, de maneira consorciada e em diferentes arranjos, que nos remete às combinações de jornadas de trabalho descritas por Luiz Antônio Machado da Silva. Neste sentido, os alunos também comentaram como os limites tênues entre '''formalidade e informalidade''', ou entre as diversas formas de trabalho descritas por Machado da Silva (2018), se tornam elemento central no cenário observado por Motta e Neiburg (2023), tendo em vista as estratégias traçadas por seus interlocutores para ganhar a vida em meio a uma pandemia acompanhada de uma crise econômica. | |||
Pensar sobre a '''economia cotidiana''' de favelas faz parte de um esforço de pensar esses territórios para além dos temas que mais são associados à eles, como a violência e a criminalidade. Mais do que isso, é o reconhecimento de que seus moradores são ''agentes'' capazes de reordenar cotidianamente suas ações para viver uma vida digna, não estando assim, relegados à subsistência, à falta e à pobreza. Pensar em economia cotidiana, nesse sentido, é pensar sobre muitas esferas da vida das pessoas: alimentação, vestimentas, lazer, educação, saúde. Isto porque o dinheiro se coloca como um ator imponderável nas trocas que possibilitam a obtenção desses fatores. Territórios favelados são locais altamente diversos e que estimulam a existência de circuitos comerciais plurais e de atividades que podem ''dar dinheiro''. Salões de beleza, barracas nas feiras, mercadinhos, lojas de roupas, restaurantes, farmácias, ou então, indo de casa em casa revendendo produtos – tudo isso compõe os cenários de diferentes favelas, demarcando a <u>centralidade da economia</u> nas dinâmicas que as constroem e reconstroem todos os dias. | |||
'''Bibliografia:''' | |||
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*Motta, Eugênia. Neiburg, Federico. Misalignments: House money and inflationary experiences. International Sociology, 38 (6), 2023. | *Motta, Eugênia. Neiburg, Federico. Misalignments: House money and inflationary experiences. International Sociology, 38 (6), 2023. | ||
*Silva, Luiz Antonio Machado da. Estratégias de vida e jornada de trabalho. In:__. Araujo, Marcella. Cavalcanti Mariana. Motta Eugênia (org.). O mundo popular: trabalho e condições de vida. Rio de Janeiro: Papeis Selvagens, 2018 [1984]. | *Silva, Luiz Antonio Machado da. Estratégias de vida e jornada de trabalho. In:__. Araujo, Marcella. Cavalcanti Mariana. Motta Eugênia (org.). O mundo popular: trabalho e condições de vida. Rio de Janeiro: Papeis Selvagens, 2018 [1984]. |
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