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<p style="text-align: center;">Retirado do blog da Fundação Heinrich Böll Stiftung. Para acessar o conteúdo original, [https://br.boell.org/pt-br/2016/06/22/vila-autodromo-remocao-e-resistencia clique aqui]. </p> <p style="text-align: center;">Por: Giselle Tanaka </p> | |||
Retirado do blog da Fundação Heinrich Böll Stiftung. Para acessar o conteúdo original, [https://br.boell.org/pt-br/2016/06/22/vila-autodromo-remocao-e-resistencia clique aqui]. | |||
Por: Giselle Tanaka | |||
= Introdução = | = Introdução = | ||
<p style="text-align: justify;">A comunidade Vila Autódromo se tornou referência no Rio de Janeiro por ser símbolo de resistência contra a política de remoções em curso na cidade, associada aos megaeventos esportivos.</p> <p style="text-align: justify;">A prefeitura do Rio de Janeiro vem deslocando a população de baixa renda de áreas valorizadas, de interesse turístico e imobiliário, para áreas distantes e sem infraestrutura, através de uma combinação entre uma política violenta de remoções eoprograma habitacional do governo federal, Minha Casa, Minha Vida, implantado principalmente na periferia da cidade.</p> <p style="text-align: justify;">Situada ao lado do Parque Olímpico, coração dos jogos de 2016, a Vila Autódromo é um dos principais alvos dessa política. Em 2014, parte dos moradores começou a ceder às pressões, e as demolições na comunidade começaram.</p> | <p style="text-align: justify;">A comunidade Vila Autódromo se tornou referência no Rio de Janeiro por ser símbolo de resistência contra a política de remoções em curso na cidade, associada aos megaeventos esportivos.</p> <p style="text-align: justify;">A prefeitura do Rio de Janeiro vem deslocando a população de baixa renda de áreas valorizadas, de interesse turístico e imobiliário, para áreas distantes e sem infraestrutura, através de uma combinação entre uma política violenta de remoções eoprograma habitacional do governo federal, Minha Casa, Minha Vida, implantado principalmente na periferia da cidade.</p> <p style="text-align: justify;">Situada ao lado do Parque Olímpico, coração dos jogos de 2016, a Vila Autódromo é um dos principais alvos dessa política. Em 2014, parte dos moradores começou a ceder às pressões, e as demolições na comunidade começaram.</p> | ||
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<p style="text-align: justify;">A prefeitura passou a encontrar resistência em convencer novas famílias a se mudarem para o Parque Carioca, então começou a negociar indenizações individualmente. As informações oficiais nunca chegavam, mantendo o clima de medo sobre o que aconteceria com os que não negociassem.</p> <p style="text-align: justify;">As primeiras indenizações foram bastante altas. Não se tem registro dos valores realmente pagos, sabe-se que algumas famílias, com casas e comércio maiores receberam valores significativos, chegando a mais de R$2 milhões, mas outras recebiam valores mais modestos, ouvindo frases como “o dinheiro das empreiteiras está acabando”, “se não aceitar esse valor, vai para a desapropriação judicial e vai ser bem menos”.</p> <p style="text-align: justify;">Há relatos de moradores que conseguiram comprar casas em boas condições, nas proximidades, com o recurso da indenização, mas também de outras que mudaram para casas em outras comunidades irregulares em bairros menos valorizados. A cada dia mais famílias aceitavam sair.</p> <p style="text-align: justify;">Com o aumento das demolições, aumentou o caos e degradação das condições de vida dos que ficaram. As primeiras demolições aconteceram com todo cuidado exigido por lei. Mas logo a prefeitura começou a deixar entulhos no local, comprometer o abastecimento de água, a circulação interna, a rede elétrica. Os serviços públicos também começaram a ser cortados, diminuindo a coleta de lixo e a manutenção da iluminação pública. Essas condições foram denunciadas à justiça, mas sem resultado. A prefeitura aumentou também a presença da Guarda Municipal na comunidade.</p> <p style="text-align: justify;">Em março de 2015, a prefeitura publicou os decretos n° 39.851, 39.852 e 39.853 definindo como de utilidade pública para desapropriação 48 casas, forçando a negociação sob risco de desapropriação judicial. Em junho de 2015, oficiais de justiça, escoltados pela guarda municipal, chegaram para a remoção forçada, sem aviso prévio de uma casa. Os moradores cercaram a casa, em apoio à família ameaçada, e a guarda municipal avançou com violência. Vários moradores ficaram feridos, mas a demolição foi impedida.</p> | <p style="text-align: justify;">A prefeitura passou a encontrar resistência em convencer novas famílias a se mudarem para o Parque Carioca, então começou a negociar indenizações individualmente. As informações oficiais nunca chegavam, mantendo o clima de medo sobre o que aconteceria com os que não negociassem.</p> <p style="text-align: justify;">As primeiras indenizações foram bastante altas. Não se tem registro dos valores realmente pagos, sabe-se que algumas famílias, com casas e comércio maiores receberam valores significativos, chegando a mais de R$2 milhões, mas outras recebiam valores mais modestos, ouvindo frases como “o dinheiro das empreiteiras está acabando”, “se não aceitar esse valor, vai para a desapropriação judicial e vai ser bem menos”.</p> <p style="text-align: justify;">Há relatos de moradores que conseguiram comprar casas em boas condições, nas proximidades, com o recurso da indenização, mas também de outras que mudaram para casas em outras comunidades irregulares em bairros menos valorizados. A cada dia mais famílias aceitavam sair.</p> <p style="text-align: justify;">Com o aumento das demolições, aumentou o caos e degradação das condições de vida dos que ficaram. As primeiras demolições aconteceram com todo cuidado exigido por lei. Mas logo a prefeitura começou a deixar entulhos no local, comprometer o abastecimento de água, a circulação interna, a rede elétrica. Os serviços públicos também começaram a ser cortados, diminuindo a coleta de lixo e a manutenção da iluminação pública. Essas condições foram denunciadas à justiça, mas sem resultado. A prefeitura aumentou também a presença da Guarda Municipal na comunidade.</p> <p style="text-align: justify;">Em março de 2015, a prefeitura publicou os decretos n° 39.851, 39.852 e 39.853 definindo como de utilidade pública para desapropriação 48 casas, forçando a negociação sob risco de desapropriação judicial. Em junho de 2015, oficiais de justiça, escoltados pela guarda municipal, chegaram para a remoção forçada, sem aviso prévio de uma casa. Os moradores cercaram a casa, em apoio à família ameaçada, e a guarda municipal avançou com violência. Vários moradores ficaram feridos, mas a demolição foi impedida.</p> | ||
= Renovação da resistência = | = Renovação da resistência = | ||
<p style="text-align: justify;">O ano Olímpico de 2016 começa na Vila Autódromo com cerca de 50 casas em pé, para uma comunidade que já teve mais de 500 casas. O prefeito Eduardo Paes continuava afirmando que quem quiser poderá ficar na Vila Autódromo (veja nas entrevistas com o prefeito: http://bbc.in/1MocJ73; http://www.rioonwatch.org/?p=26453), mas sem apresentar o plano de urbanização e sem oferecer, nas negociações, essa opção. </p> <p style="text-align: justify;">A guarda municipal tem agido, no desvio de suas funções, intimidando e agredindo moradores da resistência organizada (Ver Manifesto: Violência e Direito à Moradia no Rio Olímpico, Apoio à Resistência da Vila Autódromo). Recentemente sitiou áreas da comunidade, impedindo moradores, apoiadores e imprensa de chegar, para acompanhar demolições e descaracterização de imóveis.</p> | <p style="text-align: justify;">O ano Olímpico de 2016 começa na Vila Autódromo com cerca de 50 casas em pé, para uma comunidade que já teve mais de 500 casas. O prefeito Eduardo Paes continuava afirmando que quem quiser poderá ficar na Vila Autódromo (veja nas entrevistas com o prefeito: [http://bbc.in/1MocJ73 http://bbc.in/1MocJ73]; http://www.rioonwatch.org/?p=26453), mas sem apresentar o plano de urbanização e sem oferecer, nas negociações, essa opção. </p> <p style="text-align: justify;">A guarda municipal tem agido, no desvio de suas funções, intimidando e agredindo moradores da resistência organizada (Ver Manifesto: Violência e Direito à Moradia no Rio Olímpico, Apoio à Resistência da Vila Autódromo). Recentemente sitiou áreas da comunidade, impedindo moradores, apoiadores e imprensa de chegar, para acompanhar demolições e descaracterização de imóveis.</p> | ||
[[File:Vila Autódromo.jpg|thumb|center|700px|Vila Autódromo.jpg]] | [[File:Vila Autódromo.jpg|thumb|center|700px|Vila Autódromo.jpg]] | ||
<p style="text-align: justify;">As famílias que resistiram até agora mantém uma esperança nas condições mais adversas. As demolições não param, com novas famílias que cedem, que não resistiram à violência que vinha sofrendo.</p> <p style="text-align: justify;">As famílias que lutam para ficar, lançaram no dia 27 de fevereiro uma nova versão do Plano Popular considerando a situação atual da comunidade, e junto com ela a campanha ''Urbaniza Já'', com o desafio de que cada um grave um vídeo perguntado ao Eduardo Paes quando ele cumprirá sua promessa de urbanizar a Vila Autódromo. A Vila tem sido ocupada em todos os finais de semana por atividades culturais e ações de apoio aos moradores (#OcupaVilaAutódromo – ver abaixo). São cerca de 30 famílias que impressionam pela sua força.</p> <p style="text-align: justify;">No início de fevereiro começou também uma vigília na Associação de Moradores e na casa da Maria da Penha, pois seriam as próximas demolições previstas. A demolição da associação aconteceu em 24/02, com ordem judicial.</p> <p style="text-align: justify;">O Dia Internacional da Mulher, 08 de maio, começou com um chamado dos moradores pois a guarda havia sitiado a casa da Maria da Penha, com a ordem para demolição. Antes das 10h da manhã, a casa estava no chão. Maria da Penha e sua família lutam para ficar na Vila Autódromo, e a prefeitura não apresentou a ela uma alternativa de permanência, como prometido. Ofereceu o apartamento ou a indenização. A família optou por ficar na comunidade dividida, entre a Igreja e a casa de amigos. Sabem que se saírem, mesmo que temporariamente, as chances de conseguir voltar são mínimas. No mesmo dia o Prefeito Eduardo Paes anunciou à imprensa, sem chamar os moradores, seu plano para a Vila Autódromo; e Maria da Penha recebeu uma homenagem na Assembleia Legislativa do Estado.</p> <p style="text-align: justify;">O plano apresentado pelo prefeito prevê 30 casas, de 55m<sup>2</sup> em lotes de 125m<sup>2</sup>, escondidos entre duas escolas. Os moradores acreditam que o anúncio da prefeitura é uma resposta à campanha “Urbaniza Já”, que ganhou destaque internacional com vídeos gravados por atores famosos como Camilla Pitanga, Gregório Duvivier e Bruno Gagliasso, e personalidades internacionais que lutam pelo direito à moradia, como o geógrafo David Harvey. Mas desconfiam de mais esse anúncio do prefeito: “Estamos chegando a conclusão que já que ele diz que esta contra o tempo, e que precisa resolver logo isso, que essa declaração para a imprensa foi mais uma mentira para desarticular a campanha que está acontecendo nos meios sociais do ''Urbaniza já! A Vila vai ficar!''”.</p> <p style="text-align: justify;">As poucas famílias que restam na Vila Autódromo entregaram ao prefeito em 15 de março um abaixo-assinado pedindo para conhecer o plano, e querendo saber quando começam as obras de urbanização.</p> <p style="text-align: justify;">O futuro da Vila Autódromo é incerto, mas há ainda famílias que não abrem mão dos seus direitos, contra as arbitrariedades em curso na Cidade Olímpica.</p> | <p style="text-align: justify;">As famílias que resistiram até agora mantém uma esperança nas condições mais adversas. As demolições não param, com novas famílias que cedem, que não resistiram à violência que vinha sofrendo.</p> <p style="text-align: justify;">As famílias que lutam para ficar, lançaram no dia 27 de fevereiro uma nova versão do Plano Popular considerando a situação atual da comunidade, e junto com ela a campanha ''Urbaniza Já'', com o desafio de que cada um grave um vídeo perguntado ao Eduardo Paes quando ele cumprirá sua promessa de urbanizar a Vila Autódromo. A Vila tem sido ocupada em todos os finais de semana por atividades culturais e ações de apoio aos moradores (#OcupaVilaAutódromo – ver abaixo). São cerca de 30 famílias que impressionam pela sua força.</p> <p style="text-align: justify;">No início de fevereiro começou também uma vigília na Associação de Moradores e na casa da Maria da Penha, pois seriam as próximas demolições previstas. A demolição da associação aconteceu em 24/02, com ordem judicial.</p> <p style="text-align: justify;">O Dia Internacional da Mulher, 08 de maio, começou com um chamado dos moradores pois a guarda havia sitiado a casa da Maria da Penha, com a ordem para demolição. Antes das 10h da manhã, a casa estava no chão. Maria da Penha e sua família lutam para ficar na Vila Autódromo, e a prefeitura não apresentou a ela uma alternativa de permanência, como prometido. Ofereceu o apartamento ou a indenização. A família optou por ficar na comunidade dividida, entre a Igreja e a casa de amigos. Sabem que se saírem, mesmo que temporariamente, as chances de conseguir voltar são mínimas. No mesmo dia o Prefeito Eduardo Paes anunciou à imprensa, sem chamar os moradores, seu plano para a Vila Autódromo; e Maria da Penha recebeu uma homenagem na Assembleia Legislativa do Estado.</p> <p style="text-align: justify;">O plano apresentado pelo prefeito prevê 30 casas, de 55m<sup>2</sup> em lotes de 125m<sup>2</sup>, escondidos entre duas escolas. Os moradores acreditam que o anúncio da prefeitura é uma resposta à campanha “Urbaniza Já”, que ganhou destaque internacional com vídeos gravados por atores famosos como Camilla Pitanga, Gregório Duvivier e Bruno Gagliasso, e personalidades internacionais que lutam pelo direito à moradia, como o geógrafo David Harvey. Mas desconfiam de mais esse anúncio do prefeito: “Estamos chegando a conclusão que já que ele diz que esta contra o tempo, e que precisa resolver logo isso, que essa declaração para a imprensa foi mais uma mentira para desarticular a campanha que está acontecendo nos meios sociais do ''Urbaniza já! A Vila vai ficar!''”.</p> <p style="text-align: justify;">As poucas famílias que restam na Vila Autódromo entregaram ao prefeito em 15 de março um abaixo-assinado pedindo para conhecer o plano, e querendo saber quando começam as obras de urbanização.</p> <p style="text-align: justify;">O futuro da Vila Autódromo é incerto, mas há ainda famílias que não abrem mão dos seus direitos, contra as arbitrariedades em curso na Cidade Olímpica.</p> | ||
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= Como apoiar a Vila Autódromo = | = Como apoiar a Vila Autódromo = | ||
<p style="text-align: justify;">Acompanhe e divulgue. O apoio externo, na divulgação da situação dos moradores, e a cobertura da mídia, tem se mostrado fundamental, até para inibir ações violentas por parte da prefeitura. Ajude a divulgar o que está acontecendo na Vila Autódromo. Acompanhe pelas páginas do facebook, atualizadas diariamente:</p> <p style="text-align: justify;">[https://www.facebook.com/vivaavilaautodromo/?fref=ts https://www.facebook.com/vivaavilaautodromo/?fref=ts]</p> <p style="text-align: justify;">[https://www.facebook.com/profile.php?id=100008667878250&fref=ts https://www.facebook.com/profile.php?id=100008667878250&fref=ts]</p> <p style="text-align: justify;">Visite a comunidade. Você poderá conhecer a triste realidade da Vila Autódromo da Vila Autódromo hoje, mas também ser bem recebido por moradores, sempre dispostos a contar sua história. Estando lá, poderá se somar à vigília da entrada da comunidade, participar de mutirões e atividades culturais, e transmitir online as demandas dos moradores e impedir novos cercos da Guarda-Municipal.</p> <p style="text-align: justify;">Traga uma atividade solidária à Vila Autódromo. Organize uma aula aberta, uma ação cultural, artística, ambiental, recreativa na Vila Autódromo com os moradores.Contato: inbox para Nidivaldo Macário Oliveira (Vila Autódromo Parte II): [https://www.facebook.com/profile.php?id=100008667878250&fref=ts https://www.facebook.com/profile.php?id=100008667878250&fref=ts]</p> | <p style="text-align: justify;">Acompanhe e divulgue. O apoio externo, na divulgação da situação dos moradores, e a cobertura da mídia, tem se mostrado fundamental, até para inibir ações violentas por parte da prefeitura. Ajude a divulgar o que está acontecendo na Vila Autódromo. Acompanhe pelas páginas do facebook, atualizadas diariamente:</p> <p style="text-align: justify;">[https://www.facebook.com/vivaavilaautodromo/?fref=ts https://www.facebook.com/vivaavilaautodromo/?fref=ts]</p> <p style="text-align: justify;">[https://www.facebook.com/profile.php?id=100008667878250&fref=ts https://www.facebook.com/profile.php?id=100008667878250&fref=ts]</p> <p style="text-align: justify;">Visite a comunidade. Você poderá conhecer a triste realidade da Vila Autódromo da Vila Autódromo hoje, mas também ser bem recebido por moradores, sempre dispostos a contar sua história. Estando lá, poderá se somar à vigília da entrada da comunidade, participar de mutirões e atividades culturais, e transmitir online as demandas dos moradores e impedir novos cercos da Guarda-Municipal.</p> <p style="text-align: justify;">Traga uma atividade solidária à Vila Autódromo. Organize uma aula aberta, uma ação cultural, artística, ambiental, recreativa na Vila Autódromo com os moradores.Contato: inbox para Nidivaldo Macário Oliveira (Vila Autódromo Parte II): [https://www.facebook.com/profile.php?id=100008667878250&fref=ts https://www.facebook.com/profile.php?id=100008667878250&fref=ts]</p> <p style="text-align: justify;"> </p> | ||
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