Portal Viva Favela: mudanças entre as edições

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No entendimento de alguns autores, a violência urbana é uma gramática, ou linguagem, “que produz uma compreensão prático-moral de boa parte da vida cotidiana nas grandes cidades” (Machado da Silva, 2010). Ainda de acordo com Luiz Antônio Machado da Silva:
No entendimento de alguns autores, a violência urbana é uma gramática, ou linguagem, “que produz uma compreensão prático-moral de boa parte da vida cotidiana nas grandes cidades” (Machado da Silva, 2010). Ainda de acordo com Luiz Antônio Machado da Silva:


  <ref>(...) Minha hipótese é que ela (violência urbana) associa o uso de meios violentos à noção leiga de crime (a qual tem relação, mas não pode ser reduzida ao crime como figura do direito penal), enfatizando o quanto essa combinação ameaça permanentemente, e não apenas eventualmente, a integridade física e patrimonial das pessoas. (...) Para fechar este ponto, reitero que, ao menos no Rio de Janeiro, os “portadores” da “sociabilidade violenta” são, tipicamente (mas não exclusivamente), os bandos de traficantes responsáveis pelo funcionamento das “bocas” tendencialmente localizadas nos “territórios da pobreza”.
   
</ref>


Márcia Leite também chama atenção para os episódios de violência armada e seu impacto sobre o imaginário social, traduzido na expressão “cidade partida”, amplamente usada na época:  
Márcia Leite também chama atenção para os episódios de violência armada e seu impacto sobre o imaginário social, traduzido na expressão “cidade partida”, amplamente usada na época:  


<ref>Ao longo dos anos 90, entretanto, o Rio de Janeiro adquiriu o perfil de uma cidade violenta. Assassinatos, roubos, assaltos, sequestros, arrastões nas praias, brigas de jovens em bailes funk e confrontos armados entre quadrilhas rivais ou entre estas e a polícia ganharam as ruas de uma forma inusitada por sua frequência, magnitude, localização espacial, potencial de ameaça e repercussão na mídia local e nacional.</ref>


E segue:  
E segue:  


<ref>Interpretando o crescimento da violência na chave da “questão social”, vários de seus analistas passaram a nomear o Rio de Janeiro como uma “cidade partida” (Ventura, 1994; Ribeiro, 1996, entre outros). Com isso, de um lado, referiam a um dilaceramento do tecido social por contradições e conflitos resultantes de um modelo de crescimento econômico e expansão urbana que alijara de seus benefícios parte considerável da população carioca. De outro, aludiam ao que vinha sendo referido pela mídia carioca como uma oposição quase irreconciliável entre as classes médias e abastadas e a população moradora nas favelas (...).</ref>


No que diz respeito à história do Viva Favela, o seu surgimento também se conecta ao fortalecimento das chamadas ONGs (ou organizações sem fins lucrativos) também na década de 1990. Diante de chacinas como as da Candelária e de Vigário Geral, em que 29 pessoas (entre crianças pobres e famílias de uma favela da zona norte), foram assassinadas por policiais militares, movimentos da chamada sociedade civil passaram a disputar o sentido de cidadania com o imaginário criado pelas manchetes dos principais jornais (LEITE, 2000). Foi nesse contexto que os (10) repórteres e (5) fotógrafos passaram a trazer, para um público maior, diversas histórias do seu cotidiano que não costumavam ser notícia, já que nada tinham a ver com violência armada ou ilegalidades.  
No que diz respeito à história do Viva Favela, o seu surgimento também se conecta ao fortalecimento das chamadas ONGs (ou organizações sem fins lucrativos) também na década de 1990. Diante de chacinas como as da Candelária e de Vigário Geral, em que 29 pessoas (entre crianças pobres e famílias de uma favela da zona norte), foram assassinadas por policiais militares, movimentos da chamada sociedade civil passaram a disputar o sentido de cidadania com o imaginário criado pelas manchetes dos principais jornais (LEITE, 2000). Foi nesse contexto que os (10) repórteres e (5) fotógrafos passaram a trazer, para um público maior, diversas histórias do seu cotidiano que não costumavam ser notícia, já que nada tinham a ver com violência armada ou ilegalidades.  


Nas palavras de Cristiane,  
Nas palavras de Cristiane,
 
<ref>Esse panorama ajuda a transformar o Viva Favela numa das principais fontes de informação sobre essas favelas. E o que parecia impossível acontece. De repente, a grande mídia começa a ser influenciada por um projeto de comunicação pequeno e independente [frente às estruturas dos grandes jornais], criado e mantido por uma ONG. Com acesso a histórias e personagens que só poderiam ser descobertas por na própria favela (...), o portal oferecia aos jornalistas um atalho seguro para chegar às comunidades do Rio (RAMALHO, 2007, pg 18).</ref>


As inúmeras histórias contadas também passaram a alimentar diferentes sites internos nas áreas de memória, gênero, meio ambiente e apoio jurídico. “Uma riqueza reforçada pelas mais de 40 mil imagens produzidas pela equipe de fotografia” (RAMALHO, 2007). Equipe essa que ganhou o prêmio Documentary Photography Project Distribution Grant, concedido pelo Open Society Institute, em 2005, pelo conjunto do seu trabalho. Para participar do portal, "correspondentes" passaram por um processo seletivo e, após ingressar no portal, tiveram treinamento voltado para produção de textos e fotografias. A colaboração e as trocas entre pessoas da equipe com diferentes experiências de cidade constituiu um processo de diálogo intenso que contribuiu para o sucesso da proposta. Mas os desafios também eram muitos. Encontrar meios de também falar sobre violências sofridas por moradores das favela, sem colocar repórteres e fotógrafos em risco foi um dos pontos mais difíceis. A solução encontrada foi designar pessoas da equipe que não moravam nesses locais para escrever estes textos.
As inúmeras histórias contadas também passaram a alimentar diferentes sites internos nas áreas de memória, gênero, meio ambiente e apoio jurídico. “Uma riqueza reforçada pelas mais de 40 mil imagens produzidas pela equipe de fotografia” (RAMALHO, 2007). Equipe essa que ganhou o prêmio Documentary Photography Project Distribution Grant, concedido pelo Open Society Institute, em 2005, pelo conjunto do seu trabalho. Para participar do portal, "correspondentes" passaram por um processo seletivo e, após ingressar no portal, tiveram treinamento voltado para produção de textos e fotografias. A colaboração e as trocas entre pessoas da equipe com diferentes experiências de cidade constituiu um processo de diálogo intenso que contribuiu para o sucesso da proposta. Mas os desafios também eram muitos. Encontrar meios de também falar sobre violências sofridas por moradores das favela, sem colocar repórteres e fotógrafos em risco foi um dos pontos mais difíceis. A solução encontrada foi designar pessoas da equipe que não moravam nesses locais para escrever estes textos.
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'''Fontes e referências bibliográficas'''
'''Fontes e referências bibliográficas'''


Ramalho, Cristiane. Notícias da favela. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007
RAMALHO, Cristiane. Notícias da favela. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007


Vários autores. Viva Favela. São Paulo: Editora Olhares, 2008  
Vários autores. Viva Favela. São Paulo: Editora Olhares, 2008  


Santos, Mayra Coelho Jucá dos. Vozes ativas das favelas 2.0: autorrepresentações midiáticas numa rede de comunicadores periféricos. Dissertação (mestrado) Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Programa de Pós-Graduação em História Política e Bens Culturais, 2014
SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Vozes ativas das favelas 2.0: autorrepresentações midiáticas numa rede de comunicadores periféricos. Dissertação (mestrado) Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Programa de Pós-Graduação em História Política e Bens Culturais, 2014


LEITE, Márcia Pereira. Entre o individualismo e a solidariedade: dilemas da política e da cidadania no Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 15, p. 43-90, 2000
LEITE, Márcia Pereira. Entre o individualismo e a solidariedade: dilemas da política e da cidadania no Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 15, p. 43-90, 2000