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Estudo relacionado ao [[Clássicos e contemporâneos sobre favelas Curso IESP-UERJ|curso Clássicos e contemporâneos sobre favelas]], realizado no âmbito do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O curso teve objetivo de debater o lugar das favelas no Rio de Janeiro, estabelecendo diálogos entre estudos clássicos e contemporâneos. Este verbete registra o debate, realizado em uma das aulas, voltado para o tema "Política nas favelas". | Estudo relacionado ao [[Clássicos e contemporâneos sobre favelas Curso IESP-UERJ|curso Clássicos e contemporâneos sobre favelas]], realizado no âmbito do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O curso teve objetivo de debater o lugar das favelas no Rio de Janeiro, estabelecendo diálogos entre estudos clássicos e contemporâneos. Este verbete registra o debate, realizado em uma das aulas, voltado para o tema "Política nas favelas". | ||
Autoria: Bruno Guilhermano; Thaís Cruz. | Autoria: Bruno Guilhermano; Thaís Cruz. | ||
[[Arquivo:Livro a Sociologia Urbana no Brasil.png|miniaturadaimagem|Livro a Sociologia Urbana no Brasil]] | |||
== Sobre == | == Sobre == | ||
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Um dos pontos situados pelo autor é como as localidades reúnem recursos variados, além de aspectos sociais, territoriais e ambientais que lhes singularizam. Reúnem, também, agentes que irão atrair ou evitar recursos externos às necessidades das comunidades, o que, por excelência, abre um leque para que a política seja exercida. Existem, assim, bases sociais nas favelas que concentram nexos do poder local, abertura à cooperação ou resistência às interferências de instituições supralocais, como o Estado. | Um dos pontos situados pelo autor é como as localidades reúnem recursos variados, além de aspectos sociais, territoriais e ambientais que lhes singularizam. Reúnem, também, agentes que irão atrair ou evitar recursos externos às necessidades das comunidades, o que, por excelência, abre um leque para que a política seja exercida. Existem, assim, bases sociais nas favelas que concentram nexos do poder local, abertura à cooperação ou resistência às interferências de instituições supralocais, como o Estado. | ||
== Definição de poder == | |||
A definição do conceito de poder, a Leeds, passa pela observação e descrição de situações nas quais controles estejam sendo exercidos e que recursos sejam envolvidos, entrelaçando o papel e as redes dos agentes. Num nível local, segmentos da população tendem a controlar recursos e exercer influências, além de nutrir relações com outros níveis de poder. Neste sentido, as inter-relações entre localidades e as instituições supralocais podem ser variadas. Nos termos do escritor, várias localidades diferentes interagem com as mesmas estruturas supralocais de formas diferentes e específicas, o que exige uma descrição do analista. As instituições supralocais apresentam princípios e modos de operar a partir de estruturas específicas, como, por exemplo, o sistema bancário, mercados, partidos políticos, dentre outras organizações. O domínio de estruturas supralocais possibilitam o acesso a recursos estratégicos, convertidos em fontes de poder singulares. | A definição do conceito de poder, a Leeds, passa pela observação e descrição de situações nas quais controles estejam sendo exercidos e que recursos sejam envolvidos, entrelaçando o papel e as redes dos agentes. Num nível local, segmentos da população tendem a controlar recursos e exercer influências, além de nutrir relações com outros níveis de poder. Neste sentido, as inter-relações entre localidades e as instituições supralocais podem ser variadas. Nos termos do escritor, várias localidades diferentes interagem com as mesmas estruturas supralocais de formas diferentes e específicas, o que exige uma descrição do analista. As instituições supralocais apresentam princípios e modos de operar a partir de estruturas específicas, como, por exemplo, o sistema bancário, mercados, partidos políticos, dentre outras organizações. O domínio de estruturas supralocais possibilitam o acesso a recursos estratégicos, convertidos em fontes de poder singulares. | ||
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Contudo, no entendimento de Leeds, as favelas não são apenas territórios com populações manobradas pelas estruturas e instituições supralocais. O poder local, observado nas favelas através de seus agentes e recursos, também se opõe, desvia ou se apropria das pressões e recursos das instituições supralocais - algo que deve ser observado e examinado na pesquisa sociológica e antropológica. | Contudo, no entendimento de Leeds, as favelas não são apenas territórios com populações manobradas pelas estruturas e instituições supralocais. O poder local, observado nas favelas através de seus agentes e recursos, também se opõe, desvia ou se apropria das pressões e recursos das instituições supralocais - algo que deve ser observado e examinado na pesquisa sociológica e antropológica. | ||
== Encontro entre Anthony Leeds e Luís Antônio Machado da Silva == | |||
Esta proposição é vista posteriormente. No final da década de 1960 e início de 1970, Anthony Leeds havia ministrado o primeiro curso de Antropologia urbana no Museu Nacional, tendo Luís Antônio Machado da Silva como um dos seus estudantes. Antes disso, Leeds e Machado já haviam se conhecido, em 1966, relação que influencia a escrita de "[[Política nas favelas]]” pelo então aprendiz Machado. | Esta proposição é vista posteriormente. No final da década de 1960 e início de 1970, Anthony Leeds havia ministrado o primeiro curso de Antropologia urbana no Museu Nacional, tendo Luís Antônio Machado da Silva como um dos seus estudantes. Antes disso, Leeds e Machado já haviam se conhecido, em 1966, relação que influencia a escrita de "[[Política nas favelas]]” pelo então aprendiz Machado. | ||
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Muito embora ressalte a participação política e a agência dos moradores, Machado reconhece que eles continuavam a ser submetidos a arranjos de poder que reiteram a posição de subalternidade. Isso porque o poder político da burguesia favelada, assim como os recursos internos, dependem de fatores externos. Em nível estadual e federal esse poder se traduz em “meras condições de barganha de votos por acréscimo ou manutenção dos recursos internos, isso é de sua posição na estratificação da favela” (Machado da Silva, 1967). Entretanto, não significa dizer que o político favelado é absolutamente ingênuo ou inábil. Como aponta Machado, o político favelado possui uma postura que poderia ser descrita como “realista”, cuja característica principal é sua orientação para os resultados a curto prazo. Mais especificamente, eles buscam políticas imediatistas, benefícios que são frequentemente pequenos e às vezes pessoais. | Muito embora ressalte a participação política e a agência dos moradores, Machado reconhece que eles continuavam a ser submetidos a arranjos de poder que reiteram a posição de subalternidade. Isso porque o poder político da burguesia favelada, assim como os recursos internos, dependem de fatores externos. Em nível estadual e federal esse poder se traduz em “meras condições de barganha de votos por acréscimo ou manutenção dos recursos internos, isso é de sua posição na estratificação da favela” (Machado da Silva, 1967). Entretanto, não significa dizer que o político favelado é absolutamente ingênuo ou inábil. Como aponta Machado, o político favelado possui uma postura que poderia ser descrita como “realista”, cuja característica principal é sua orientação para os resultados a curto prazo. Mais especificamente, eles buscam políticas imediatistas, benefícios que são frequentemente pequenos e às vezes pessoais. | ||
== Conceito de Sociabilidade violenta == | |||
Por fim, no encontro, dialogamos sobre a obra “Vida sob cerco - violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro” (2008), concebida como uma coletânea de artigos de diferentes pesquisadores. Nela, Machado da Silva, organizador, apresenta o conceito central de “[[Sociabilidade violenta: por uma interpretação da criminalidade contemporânea no Brasil urbano (artigo)|sociabilidade violenta]]”, que realça aspectos e dinâmicas interacionais dos habitantes do Rio de Janeiro. | Por fim, no encontro, dialogamos sobre a obra “Vida sob cerco - violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro” (2008), concebida como uma coletânea de artigos de diferentes pesquisadores. Nela, Machado da Silva, organizador, apresenta o conceito central de “[[Sociabilidade violenta: por uma interpretação da criminalidade contemporânea no Brasil urbano (artigo)|sociabilidade violenta]]”, que realça aspectos e dinâmicas interacionais dos habitantes do Rio de Janeiro. | ||
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* [[Política na favela (artigo)]] | * [[Política na favela (artigo)]] | ||
* Anthony Leeds (pesquisador) | |||
* [[Favelas e Comunidade Política – A partir dos anos 1960]] | * [[Favelas e Comunidade Política – A partir dos anos 1960]] | ||
* [[Cultura e Política nas favelas e periferias (live)]] | * [[Cultura e Política nas favelas e periferias (live)]] |
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