Comunidade chamada Chapéu Mangueira: mudanças entre as edições

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Autoria: Pedro Pio<ref>Cientista Social, Jornalista e Professor de História, Memória e Oralidade do Projeto Guardiões da Memória.</ref>.
[[File:Mutirão para construção da creche.png|thumb|center|600px|Mutirão para construção da creche]]
= O Chapéu =


Situado no bairro do Leme e vizinho da comunidade da Babilônia, o Chapéu Mangueira assume certas peculiaridades em sua história. Primeiramente o nome, oriundo de um fusão de características que eram bastante típicas em&nbsp;seu entorno. Segundo os veículos de informação locais, a escolha do nome seria decorrente de uma fábrica de chapéus que havia no momento de&nbsp;sua formação(território ocupado hoje pelo Leme Tênis Clube) das grandes plantações de mangas em seu espaço territorial.&nbsp;
Situado no bairro do Leme e vizinho da comunidade da Babilônia, o Chapéu Mangueira assume certas peculiaridades em sua história. Primeiramente o nome, oriundo de um fusão de características que eram bastante típicas em&nbsp;seu entorno. Segundo os veículos de informação locais, a escolha do nome seria decorrente de uma fábrica de chapéus que havia no momento de&nbsp;sua formação(território ocupado hoje pelo Leme Tênis Clube) das grandes plantações de mangas em seu espaço territorial.&nbsp;
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Antes da fundação da Associação de Amigos do Chapéu Mangueira, a comunidade era praticamente administrada pelo Exército. Segundo os antigos moradores, qualquer problema que acontecia nessa área, o Comando do PO(Posto de Observação), no alto do Morro da Babilônia, mandava uma escolta. Algumas construções de barracos eram permitidas, como também destruídas, de acordo com a sua conveniência. A Lei Leão Xlll era rigorosamente exigida pelo Tenente, autoridade maior do PO. Havia os parceiros que atuavam como ponto de equilíbrio: a associação de Amigos do Leme e&nbsp;a Igreja que através da Ação Social Dominicana, assistia a comunidade. Constituída de Padres da Ala Progressiva da Igreja, a Ação Social encarregou a Sra Renèe de Lòrme de ajudar na organização do Chapéu Mangueira. Alguns nomes da Igreja, porém, foram juntamente com Dona Renèe, decisivos na organização da comunidade. Alguns deles: Dom Helder Barros Câmara, Frei João Cherry e Frei Marcos.
Antes da fundação da Associação de Amigos do Chapéu Mangueira, a comunidade era praticamente administrada pelo Exército. Segundo os antigos moradores, qualquer problema que acontecia nessa área, o Comando do PO(Posto de Observação), no alto do Morro da Babilônia, mandava uma escolta. Algumas construções de barracos eram permitidas, como também destruídas, de acordo com a sua conveniência. A Lei Leão Xlll era rigorosamente exigida pelo Tenente, autoridade maior do PO. Havia os parceiros que atuavam como ponto de equilíbrio: a associação de Amigos do Leme e&nbsp;a Igreja que através da Ação Social Dominicana, assistia a comunidade. Constituída de Padres da Ala Progressiva da Igreja, a Ação Social encarregou a Sra Renèe de Lòrme de ajudar na organização do Chapéu Mangueira. Alguns nomes da Igreja, porém, foram juntamente com Dona Renèe, decisivos na organização da comunidade. Alguns deles: Dom Helder Barros Câmara, Frei João Cherry e Frei Marcos.


No início da década de 60, é fundada a&nbsp;[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Federação_das_Associações_de_Favelas_do_Estado_da_Guanabara_(FAFEG) Federação da Associação de Favelas do Estado da Guanabara(FAFEG)], hoje Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro(FAFERJ).&nbsp;Por estímulo do Governo Militar, para manter os moradores sob controle, muitas outras associações de favelas foram criadas.
[[File:Crianças ajudam na construção do Galpão de Artes (Acervo NECC).png|thumb|center|600px|Crianças ajudam na construção do Galpão de Artes (Acervo NECC)]]No início da década de 60, é fundada a&nbsp;[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Federação_das_Associações_de_Favelas_do_Estado_da_Guanabara_(FAFEG) Federação da Associação de Favelas do Estado da Guanabara(FAFEG)], hoje Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio de Janeiro(FAFERJ).&nbsp;Por estímulo do Governo Militar, para manter os moradores sob controle, muitas outras associações de favelas foram criadas.


Todavia, tal estímulo permitiu que essas instituições se organizassem cada vez mais, assumindo sua própria identidade e logo acrescentando representatividade diante da soberania militar. Com o passar do tempo, as atividades dessas Associações foram evoluindo e elas, em sua maioria, passaram atuar, muitas vezes, no lugar do Estado. Além da função inicial de organizar os moradores pela condição de moradia, elas passaram a tratar de educação, saúde, segurança, esporte, lazer e cultura.
Todavia, tal estímulo permitiu que essas instituições se organizassem cada vez mais, assumindo sua própria identidade e logo acrescentando representatividade diante da soberania militar. Com o passar do tempo, as atividades dessas Associações foram evoluindo e elas, em sua maioria, passaram atuar, muitas vezes, no lugar do Estado. Além da função inicial de organizar os moradores pela condição de moradia, elas passaram a tratar de educação, saúde, segurança, esporte, lazer e cultura.
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Nessas famílias, muitos tiveram destaque na organização da comunidade. No entanto, três personalidades tornaram-se demasiadamente relevantes para a história, diante dos trabalhos realizados: Maria Conceição Ferreira Pinto, “Dona Filhinha”, Marcilia Ferreira da Silva, “Dona Marcela” e Benedita da Silva.
Nessas famílias, muitos tiveram destaque na organização da comunidade. No entanto, três personalidades tornaram-se demasiadamente relevantes para a história, diante dos trabalhos realizados: Maria Conceição Ferreira Pinto, “Dona Filhinha”, Marcilia Ferreira da Silva, “Dona Marcela” e Benedita da Silva.


Os cearenses são os segundos em relação à ocupação do Chapéu Mangueira, representando 18% dos moradores. Desse percentual, 90% foram classificados como brancos e 10% pardos, de origem branca ou indígena. De acordo com o trabalho de Gibeon, muitos chegaram nos anos 50, provenientes das cidades de Cariré, Sobral, Reriutaba, Guaraciaba e Santa Quitéria. Entretanto, a imigração não obedecia ao mesmo mecanismo que o dos mineiros.
[[File:Terreno em que hoje estão localizados a Associção de Moradores e a creche, 1982. (Acervo NECC).png|thumb|center|600px|Terreno em que hoje estão localizados a Associção de Moradores e a creche, 1982. (Acervo NECC)]]Os cearenses são os segundos em relação à ocupação do Chapéu Mangueira, representando 18% dos moradores. Desse percentual, 90% foram classificados como brancos e 10% pardos, de origem branca ou indígena. De acordo com o trabalho de Gibeon, muitos chegaram nos anos 50, provenientes das cidades de Cariré, Sobral, Reriutaba, Guaraciaba e Santa Quitéria. Entretanto, a imigração não obedecia ao mesmo mecanismo que o dos mineiros.


Primeiro vinha o chefe de família, praticamente empregado por parentes nas atividades de cozinha, restaurantes, hotéis e obras. Após conseguir certa estabilidade, eles traziam suas famílias: os Souza, Brito, Rodrigues, Costa, Mesquita, Ferreira, Silva, Carneiro e Cosia.
Primeiro vinha o chefe de família, praticamente empregado por parentes nas atividades de cozinha, restaurantes, hotéis e obras. Após conseguir certa estabilidade, eles traziam suas famílias: os Souza, Brito, Rodrigues, Costa, Mesquita, Ferreira, Silva, Carneiro e Cosia.
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Os cariocas, de acordo com a pesquisa levantada por Gibeon, assumiram inicialmente um comportamento destoante dos demais. A característica mais importante é que os primeiros, que chegaram nos anos 30, só se relacionavam entre eles e com os fluminenses, havendo uma nítida relação de preconceito, mais marcada com os nordestinos.
Os cariocas, de acordo com a pesquisa levantada por Gibeon, assumiram inicialmente um comportamento destoante dos demais. A característica mais importante é que os primeiros, que chegaram nos anos 30, só se relacionavam entre eles e com os fluminenses, havendo uma nítida relação de preconceito, mais marcada com os nordestinos.


De acordo com os dados históricos, os primeiros cariocas vieram de favelas como Rocinha, Cantagalo, Cabritos e a vizinha Babilônia, sendo que muitos não possuíam o mesmo comprometimento que os demais possuíam com a comunidade, Logo, na culinária e na música, os cariocas juntamente com os mineiros, predominavam. “O feijão era o preto, o peixe era o frito. O samba, o chorinho e o jongo eram o que se ouvia. Futebol e natação eram os esportes praticados. Dessas famílias, podemos destacar: André, Teixeira, Samuel, Santos e Souza e os Muniz”.
[[File:Construção do Posto Médico, meados de 1960. (Acervo NECC).png|thumb|center|600px|Construção do Posto Médico, meados de 1960. (Acervo NECC)]]De acordo com os dados históricos, os primeiros cariocas vieram de favelas como Rocinha, Cantagalo, Cabritos e a vizinha Babilônia, sendo que muitos não possuíam o mesmo comprometimento que os demais possuíam com a comunidade, Logo, na culinária e na música, os cariocas juntamente com os mineiros, predominavam. “O feijão era o preto, o peixe era o frito. O samba, o chorinho e o jongo eram o que se ouvia. Futebol e natação eram os esportes praticados. Dessas famílias, podemos destacar: André, Teixeira, Samuel, Santos e Souza e os Muniz”.


Ainda assim, a participação de nomes cariocas na formação da comunidade foi pouca. Daqueles que participaram, destacam-se a Sra. Regina Riboredo, que é descendente da Família Ferreira de Além Paraíba, Minas, foi o Chefe do Grupo de Lobinhos e duas vezes presidente da Associação, e Jaime Muniz, cuja família se implantou na comunidade em 1945, ainda que só tenha vindo morar no Chapéu Mangueira nos anos 80, já participando como diretor da FAFERJ e da Associação e sndo presidente desta de 1992 a 1995.
Ainda assim, a participação de nomes cariocas na formação da comunidade foi pouca. Daqueles que participaram, destacam-se a Sra. Regina Riboredo, que é descendente da Família Ferreira de Além Paraíba, Minas, foi o Chefe do Grupo de Lobinhos e duas vezes presidente da Associação, e Jaime Muniz, cuja família se implantou na comunidade em 1945, ainda que só tenha vindo morar no Chapéu Mangueira nos anos 80, já participando como diretor da FAFERJ e da Associação e sndo presidente desta de 1992 a 1995.
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Nos registros iniciais da comunidade, confirma-se que a religião era dividida da seguinte forma: 91,17% de católicos e 2,83% de evangélicos. Porém, vale ressaltar que, pelo fato de a Igreja Católica ter uma participação forte na organização da comunidade e de os líderes da favela terem uma forte relação com essa igreja, alguns evangélicos se declaravam católicos para evitar a repreensão por causa do preconceito existente.
Nos registros iniciais da comunidade, confirma-se que a religião era dividida da seguinte forma: 91,17% de católicos e 2,83% de evangélicos. Porém, vale ressaltar que, pelo fato de a Igreja Católica ter uma participação forte na organização da comunidade e de os líderes da favela terem uma forte relação com essa igreja, alguns evangélicos se declaravam católicos para evitar a repreensão por causa do preconceito existente.


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= Quem foi o primeiro morador do Chapéu Mangueira? =
= Quem foi o primeiro morador do Chapéu Mangueira? =


Não se sabe ao certo sobre a data exata da ocupação da área que hoje compete ao Chapéu Mangueira. Entretanto, registros indicam que, no ano de 1911, morava o cidadão José Teixeira, pai do Sr. José Carlos Teixeira(que foi um dos diretores da Associação de Moradores) e que sempre morou na Rua Doutor Vitorino. Tais registros podem confirmar não só as datas, como também as práticas culturais e os ritmos musicais ouvidos na época. Bolero, chorinho, sambas, partido alto, jongo, folia de reis, coco, ciranda, pontos de macumba, entre outros. Segundo Gibeon, grande parte dos moradores antigos do Chapéu sentem saudade do conjunto de chorinho do “Tio Natalino” e do “Tio Mário”, dos irmãos André, das Folias de Reis do seu Gerson, irmão de dona Marcela, das macumbas no terreiro do “Tio Laninho”.
Não se sabe ao certo sobre a data exata da ocupação da área que hoje compete ao Chapéu Mangueira. Entretanto, registros indicam que, no ano de 1911, morava o cidadão José Teixeira, pai do Sr. José Carlos Teixeira(que foi um dos diretores da Associação de Moradores) e que sempre morou na Rua Doutor Vitorino. Tais registros podem confirmar não só as datas, como também as práticas culturais e os ritmos musicais ouvidos na época. Bolero, chorinho, sambas, partido alto, jongo, folia de reis, coco, ciranda, pontos de macumba, entre outros. Segundo Gibeon, grande parte dos moradores antigos do Chapéu sentem saudade do conjunto de chorinho do “Tio Natalino” e do “Tio Mário”, dos irmãos André, das Folias de Reis do seu Gerson, irmão de dona Marcela, das macumbas no terreiro do “Tio Laninho”.
[[File:Associação de Moradores vista de cima do Galpão de Artes, início da década de 1990. (Acervo NECC).png|thumb|center|600px|Associação de Moradores vista de cima do Galpão de Artes, início da década de 1990. (Acervo NECC).png]]


Hoje, o Chapéu Mangueira tem aproximadamente 1200 habitantes e 235 imóveis, sendo 7 públicos: o Centro Sócio-Cultural-Esportivo Chapéu Mangueira, o Posto Médico, o Galpão de Artes e a Creche, administrados pela Associação; a escola infantil, administrada pela Prefeitura; a capela, administrada pelo Grupo das Carismáticas da Comunidade e a Congregação da Assembleia de Deus, administrada pelo Pastor da Igreja Assembleia de Deus do Leblon. Algumas das 228 casas foram desmembradas: algumas para comportar a família que cresceu e outras para o aluguel de cômodos, com objetivo de aumentar a renda familiar. Esses 228 casas, mais os imóveis públicos, estão distribuídos em 24 ruas, com nomes das pessoas consideradas Benfeitores da Comunidade. Em princípio, todos os donos de posses, e chefes de família são sócio-proprietários, e os sócios sem posses são contribuintes. Todos os imóveis têm água, luz e esgoto.
Hoje, o Chapéu Mangueira tem aproximadamente 1200 habitantes e 235 imóveis, sendo 7 públicos: o Centro Sócio-Cultural-Esportivo Chapéu Mangueira, o Posto Médico, o Galpão de Artes e a Creche, administrados pela Associação; a escola infantil, administrada pela Prefeitura; a capela, administrada pelo Grupo das Carismáticas da Comunidade e a Congregação da Assembleia de Deus, administrada pelo Pastor da Igreja Assembleia de Deus do Leblon. Algumas das 228 casas foram desmembradas: algumas para comportar a família que cresceu e outras para o aluguel de cômodos, com objetivo de aumentar a renda familiar. Esses 228 casas, mais os imóveis públicos, estão distribuídos em 24 ruas, com nomes das pessoas consideradas Benfeitores da Comunidade. Em princípio, todos os donos de posses, e chefes de família são sócio-proprietários, e os sócios sem posses são contribuintes. Todos os imóveis têm água, luz e esgoto.
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