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==== Primeira fase (2001 a 2005) ==== | ==== Primeira fase (2001 a 2005) ==== | ||
Para participar do portal, "os correspondentes" passaram por um processo seletivo e, após ingressarem, tiveram um treinamento voltado para a produção de textos e fotografias. A colaboração e as trocas entre pessoas da equipe, com diferentes experiências de cidade, constituiu um processo de diálogo intenso e afetivo que contribuiu para o trabalho deslanchar. Mas os desafios também eram muitos. Por exemplo, um dos pontos mais difíceis foi encontrar meios para falar também sobre violências sofridas por moradores das favelas, a partir da sua ótica, mas sem colocar repórteres e fotógrafos em risco. A solução encontrada foi designar pessoas da equipe que não moravam nesses locais para fazer estas reportagens. A sessão criada para abrigar esse conteúdo foi denominada "Vidas perdidas". | Para participar do portal, "os correspondentes" passaram por um processo seletivo e, após ingressarem, tiveram um treinamento voltado para a produção de textos e fotografias. A colaboração e as trocas entre pessoas da equipe, com diferentes experiências de cidade, constituiu um processo de diálogo intenso e afetivo que contribuiu para o trabalho deslanchar. Mas os desafios também eram muitos. Por exemplo, um dos pontos mais difíceis foi encontrar meios para falar também sobre violências sofridas por moradores das favelas, a partir da sua ótica, mas sem colocar repórteres e fotógrafos em risco. A solução encontrada foi designar pessoas da equipe que não moravam nesses locais para fazer estas reportagens. A sessão criada para abrigar esse conteúdo foi denominada "Vidas perdidas". | ||
Novamente, vale trazer a riqueza de detalhes sobre o dia a dia do portal, narrada por Cristiane Ramalho, recorrendo a falas dos repórteres e fotógrafos das favelas: <blockquote>Ninguém sabia exatamente o que seria um 'correspondente comunitário' quando o Viva Rio começou, no início de 2001, a recrutar moradores em favelas cariocas para trabalhar no portal. Mesmo assim, a notícia soava sedutora. Atraídos pela divulgação feita com a ajuda de rádios comunitárias e de projetos e parceiros da ONG, os candidatos logo começaram a aparecer. Tinham idades, experiências profissionais e expectativas variadas. (...). Em abril, o time já estava treinado e pronto para entrar em campo. Antes disso, porém, seria preciso vencer um último obstáculo: a desconfiança. (...) Os correspondentes que começavam a entrar em campo temiam, sobretudo, revelar histórias que os colocassem em 'posição de confronto' com a comunidade. (...) Levou tempo até o projeto conquistar sua confiança. Quando começaram a relaxar, ficou claro o quanto poderiam trazer de novidade para o jornalismo carioca. Primeiro, porque tinham um conhecimento profundo daquela realidade. E, ao contrário dos repórteres 'de fora', podiam gastar dias e dias em busca de uma boa pauta. (...) Todos sempre preferiram, por exemplo, mostrar 'a favela do bem'. Era uma forma de trabalhar uma imagem diferente da que costumavam encontrar na mídia tradicional – e isso coincidia com um dos objetivos do portal. Mas era também a garantia de que não correriam risco ao andar pelas ruas com uma máquina fotográfica ou um bloquinho e uma caneta. 'Vocês colocam o pé na favela e saem correndo. A gente continua lá. Nós é que vamos ser chamados para o ‘desenrolo', costumavam dizer, nas reuniões de pauta, sempre que aparecia uma história mais quente para ser apurada'. E tinham razão. Era preciso não ultrapassar os limites de segurança. Com o assassinato do jornalista Tim Lopes, em meados de 2002, isso ficou ainda mais claro. | |||
(...) O grande ponto de encontro dos correspondentes eram as reuniões de pauta, realizadas nas tardes de segunda-feira. No começo, eles vinham tímidos e desconfiados. Depois, bastante à vontade, criavam um clima de festa em meio ao silêncio habitual da redação do Viva Favela. (...) Os assuntos percorriam todas as editorias – comportamento, saúde, economia, cultura, polícia, educação, meio ambiente. Nem tudo o que se falava virava notícia. Mas cada tema se transformava em matéria-prima para costurarmos uma compreensão mais profunda das favelas. (...) | |||
Não foram poucas as reuniões de pauta que provocaram crises de choro ou boas gargalhadas na equipe. Elas tinham um quê de análise de grupo – e geravam espaço para as pessoas abrirem o coração e contarem coisas que ainda não contaram para ninguém. Isso se consolidaria com o tempo – e com a conquista de uma imensa confiança entre cada um do grupo. </blockquote> | |||
As inúmeras histórias contadas no portal passaram a alimentar diferentes sites internos nas áreas de memória, gênero, meio ambiente e apoio jurídico. Dentre eles, o Favela Tem Memória ganhou destaque e conquistou um encanto especial para a equipe. Não à toa: cada site era um projeto dentro do projeto maior do portal, mas o FTM era um espaço destinado, por exemplo, às longas entrevistas de história de vida, com prazo maior de entrega, feitas com pessoas mais velhas, que, ao contarem suas histórias, falavam da história do lugar do seu ponto de vista. A concepção foi feita de forma conjunta, tendo à frente as antropólogas Regina Novaes e Christina Vital, junto com o jornalista Flávio Pinheiro, em diálogo com repórteres, fotógrafos e redatores do portal. Havia três vertentes principais: a história oral, a partir dos depoimentos de moradores antigos; a memória musical, buscando encontrar, por exemplo, sambas e outras produções musicais perdidas com a morte de seus autores; e a memória iconográfica, a partir de fotografias guardadas por moradores e por meio de pesquisa em acervos de imagem públicos e privados. | As inúmeras histórias contadas no portal passaram a alimentar diferentes sites internos nas áreas de memória, gênero, meio ambiente e apoio jurídico. Dentre eles, o Favela Tem Memória ganhou destaque e conquistou um encanto especial para a equipe. Não à toa: cada site era um projeto dentro do projeto maior do portal, mas o FTM era um espaço destinado, por exemplo, às longas entrevistas de história de vida, com prazo maior de entrega, feitas com pessoas mais velhas, que, ao contarem suas histórias, falavam da história do lugar do seu ponto de vista. A concepção foi feita de forma conjunta, tendo à frente as antropólogas Regina Novaes e Christina Vital, junto com o jornalista Flávio Pinheiro, em diálogo com repórteres, fotógrafos e redatores do portal. Havia três vertentes principais: a história oral, a partir dos depoimentos de moradores antigos; a memória musical, buscando encontrar, por exemplo, sambas e outras produções musicais perdidas com a morte de seus autores; e a memória iconográfica, a partir de fotografias guardadas por moradores e por meio de pesquisa em acervos de imagem públicos e privados. | ||
===== Fotografia ===== | ===== Fotografia ===== | ||
Mais de 40 mil imagens foram produzidas pela equipe de fotografia do Viva Favela na fase inicial, entre 2001 e 2005. Equipe essa que ganhou o prêmio ''Documentary Photography Project Distribution Grant'', concedido pelo [https://www.opensocietyfoundations.org/ Open Society Institute], em 2005, pelo conjunto do seu trabalho. | Mais de 40 mil imagens foram produzidas pela equipe de fotografia do Viva Favela na fase inicial, entre 2001 e 2005. Equipe essa que ganhou o prêmio ''Documentary Photography Project Distribution Grant'', concedido pelo [https://www.opensocietyfoundations.org/ ''Open Society Institute''], em 2005, pelo conjunto do seu trabalho. | ||