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==== Primeira fase (2001 a 2005) ==== | ==== Primeira fase (2001 a 2005) ==== | ||
Para participar do portal, "os correspondentes" passaram por um processo seletivo e, após ingressarem, tiveram um treinamento voltado para a produção de textos e fotografias. A colaboração e as trocas entre pessoas da equipe, com diferentes experiências de cidade, constituiu um processo de diálogo intenso e afetivo que contribuiu para o trabalho deslanchar. Mas os desafios também eram muitos. Por exemplo, um dos pontos mais difíceis foi encontrar meios para falar também sobre violências sofridas por moradores das favelas, a partir da sua ótica, mas sem colocar repórteres e fotógrafos em risco. A solução | Para participar do portal, "os correspondentes" passaram por um processo seletivo e, após ingressarem, tiveram um treinamento voltado para a produção de textos e fotografias. A colaboração e as trocas entre pessoas da equipe, com diferentes experiências de cidade, constituiu um processo de diálogo intenso e afetivo que contribuiu para o trabalho deslanchar. Mas os desafios também eram muitos. Por exemplo, um dos pontos mais difíceis foi encontrar meios para falar também sobre violências sofridas por moradores das favelas, a partir da sua ótica, mas sem colocar repórteres e fotógrafos em risco. A solução acordada por todos foi designar pessoas da equipe que não moravam nesses locais para fazer estas reportagens, desde que não colocassem ninguém em risco. | ||
Alguns exemplos de matérias: Um fabricante de instrumentos musicais cria variações de modelos tradicionais como o violão e a viola caipira, inventando novas sonoridades; crianças de dez anos estão se tornando chefes de família ajudando aos pais na difícil tarefa da sobrevivência; um grupo de modelos e um fotógrafo usam a favela como cenário para ensaios fotográficos; jovens moradores da Cidade de Deus põem a mão na massa para criar os próprios filmes e fundam a produtora Boca de Filmes; um pequeno comerciante do Complexo do Alemão constrói um parque de diversão para crianças no alto do morro; encantados com a atmosfera da Rocinha, estrangeiros abandonam a vida em países como Itália e Austrália para morar na comunidade. | |||
Novamente, vale trazer a riqueza de detalhes sobre o dia a dia do portal, narrada por Cristiane Ramalho, recorrendo a falas dos repórteres e fotógrafos das favelas: <blockquote>Ninguém sabia exatamente o que seria um 'correspondente comunitário' quando o Viva Rio começou, no início de 2001, a recrutar moradores em favelas cariocas para trabalhar no portal. Mesmo assim, a notícia soava sedutora. Atraídos pela divulgação feita com a ajuda de rádios comunitárias e de projetos e parceiros da ONG, os candidatos logo começaram a aparecer. Tinham idades, experiências profissionais e expectativas variadas. (...). Em abril, o time já estava treinado e pronto para entrar em campo. Antes disso, porém, seria preciso vencer um último obstáculo: a desconfiança. (...) Os correspondentes que começavam a entrar em campo temiam, sobretudo, revelar histórias que os colocassem em 'posição de confronto' com a comunidade. (...) Levou tempo até o projeto conquistar sua confiança. Quando começaram a relaxar, ficou claro o quanto poderiam trazer de novidade para o jornalismo carioca. Primeiro, porque tinham um conhecimento profundo daquela realidade. E, ao contrário dos repórteres 'de fora', podiam gastar dias e dias em busca de uma boa pauta. (...) Todos sempre preferiram, por exemplo, mostrar 'a favela do bem'. Era uma forma de trabalhar uma imagem diferente da que costumavam encontrar na mídia tradicional – e isso coincidia com um dos objetivos do portal. Mas era também a garantia de que não correriam risco ao andar pelas ruas com uma máquina fotográfica ou um bloquinho e uma caneta. 'Vocês colocam o pé na favela e saem correndo. A gente continua lá. Nós é que vamos ser chamados para o ‘desenrolo', costumavam dizer, nas reuniões de pauta, sempre que aparecia uma história mais quente para ser apurada'. E tinham razão. Era preciso não ultrapassar os limites de segurança. Com o assassinato do jornalista Tim Lopes, em meados de 2002, isso ficou ainda mais claro. | Novamente, vale trazer a riqueza de detalhes sobre o dia a dia do portal, narrada por Cristiane Ramalho, recorrendo a falas dos repórteres e fotógrafos das favelas: <blockquote>Ninguém sabia exatamente o que seria um 'correspondente comunitário' quando o Viva Rio começou, no início de 2001, a recrutar moradores em favelas cariocas para trabalhar no portal. Mesmo assim, a notícia soava sedutora. Atraídos pela divulgação feita com a ajuda de rádios comunitárias e de projetos e parceiros da ONG, os candidatos logo começaram a aparecer. Tinham idades, experiências profissionais e expectativas variadas. (...). Em abril, o time já estava treinado e pronto para entrar em campo. Antes disso, porém, seria preciso vencer um último obstáculo: a desconfiança. (...) Os correspondentes que começavam a entrar em campo temiam, sobretudo, revelar histórias que os colocassem em 'posição de confronto' com a comunidade. (...) Levou tempo até o projeto conquistar sua confiança. Quando começaram a relaxar, ficou claro o quanto poderiam trazer de novidade para o jornalismo carioca. Primeiro, porque tinham um conhecimento profundo daquela realidade. E, ao contrário dos repórteres 'de fora', podiam gastar dias e dias em busca de uma boa pauta. (...) Todos sempre preferiram, por exemplo, mostrar 'a favela do bem'. Era uma forma de trabalhar uma imagem diferente da que costumavam encontrar na mídia tradicional – e isso coincidia com um dos objetivos do portal. Mas era também a garantia de que não correriam risco ao andar pelas ruas com uma máquina fotográfica ou um bloquinho e uma caneta. 'Vocês colocam o pé na favela e saem correndo. A gente continua lá. Nós é que vamos ser chamados para o ‘desenrolo', costumavam dizer, nas reuniões de pauta, sempre que aparecia uma história mais quente para ser apurada'. E tinham razão. Era preciso não ultrapassar os limites de segurança. Com o assassinato do jornalista Tim Lopes, em meados de 2002, isso ficou ainda mais claro. | ||
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Referências | Referências | ||
COMUNICAÇÕES DO ISER n. 59: A memória das favelas. | |||
LEITE, Márcia Pereira. Entre o individualismo e a solidariedade: dilemas da política e da cidadania no Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 15, p. 43-90, 2000 | |||
RAMALHO, Cristiane. Notícias da favela. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007 | RAMALHO, Cristiane. Notícias da favela. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2007 | ||
SANTOS, Mayra Coelho Jucá dos. Vozes ativas das favelas 2.0: autorrepresentações midiáticas numa rede de comunicadores periféricos. Dissertação (mestrado) Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Programa de Pós-Graduação em História Política e Bens Culturais, 2014 | |||
Vários autores. Viva Favela. São Paulo: Editora Olhares, 2008 | |||
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