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[[Arquivo:Cidade de Deus. Foto de Tony Barros (2).jpg|alt=|miniaturadaimagem|Fotografia publicada no Portal Viva Favela. Matéria "A vida por um fio". Data: 11/03/2002. Autoria: Tony Barros|esquerda|500x500px]] | [[Arquivo:Cidade de Deus. Foto de Tony Barros (2).jpg|alt=|miniaturadaimagem|Fotografia publicada no Portal Viva Favela. Matéria "A vida por um fio". Data: 11/03/2002. Autoria: Tony Barros|esquerda|500x500px]] | ||
Concretizado como um projeto de comunicação da organização sem fins lucrativos [http://Viva%20Rio Viva Rio] (que surge em 1993), em interlocução com líderes comunitários, jornalistas e proprietários dos principais veículos de imprensa da cidade do Rio de Janeiro, o portal atravessou distintas fases, relacionadas a fatores como a (in)disponibilidade de recursos, mudanças no processo de (auto)representação das favelas, nos perfis dos comunicadores/jornalistas locais e nas coordenações do projeto, além das rápidas transformações nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). De acordo com Mayra Coelho Jucá dos Santos, editora e coordenadora do projeto entre 2010 e 2013,a estrutura inicial da redação de jornal, com cerca de 30 pessoas em seu auge, parou de funcionar, por falta de patrocínio, em 2006 e, entre 2010 e 2013, deu lugar ao “Viva Favela 2.0”, um modelo interativo, já característico do tempo das redes sociais, contando com uma rede ampla de “colaboradores” e “produtores de conteúdo” de diferentes estados do país (SANTOS, 2012, pg 107). A partir de meados de 2013, o vivafavela.org.br voltou a seguir um formato com uma linha editorial pré-definida, ao que parece, até 2016. | Concretizado como um projeto de comunicação da organização sem fins lucrativos [http://Viva%20Rio Viva Rio] (que surge em 1993), em interlocução com líderes comunitários, jornalistas e proprietários dos principais veículos de imprensa da cidade do Rio de Janeiro, o portal atravessou distintas fases, relacionadas a fatores como a (in)disponibilidade de recursos, mudanças no processo de (auto)representação das favelas, nos perfis dos comunicadores/jornalistas locais e nas coordenações do projeto, além das rápidas transformações nas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). De acordo com Mayra Coelho Jucá dos Santos, editora e coordenadora do projeto entre 2010 e 2013,a estrutura inicial da redação de jornal, com cerca de 30 pessoas em seu auge, parou de funcionar, por falta de patrocínio, em 2006 e, entre 2010 e 2013, deu lugar ao “Viva Favela 2.0”, um modelo interativo, já característico do tempo das redes sociais, contando com uma rede ampla de “colaboradores” e “produtores de conteúdo” de diferentes estados do país (SANTOS, 2012, pg 107). A partir de meados de 2013, o vivafavela.org.br voltou a seguir um formato com uma linha editorial pré-definida, ao que parece, até 2016. | ||
[[Arquivo:Cidade de Deus (2). Foto de Tony Barros.jpg|miniaturadaimagem|Fotografia produzida como parte de ensaio fotográfico sobre bailes funk na Cidade de Deus. Data: 2004. Autoria: Tony Barros|alt= | [[Arquivo:Cidade de Deus (2). Foto de Tony Barros.jpg|miniaturadaimagem|Fotografia produzida como parte de ensaio fotográfico sobre bailes funk na Cidade de Deus. Data: 2004. Autoria: Tony Barros|alt=|500x500px]] | ||
Hoje, o acervo desta última fase ainda pode ser acessado neste endereço: http://vivafavela.vivario.org.br/. Porém, lamentavelmente, o conteúdo da primeira fase parece ter sido perdido. Uma seleção de matérias pode ser encontrada no livro Notícias da favela, escrito por Cristiane Ramalho, que foi redatora, editora chefe e coordenadora do portal entre 2001 e 2005. Publicado pela editora Aeroplano em 2007, o livro se tornou raridade, por estar esgotado, mas talvez possa ser encontrados em sebos e bibliotecas. | Hoje, o acervo desta última fase ainda pode ser acessado neste endereço: http://vivafavela.vivario.org.br/. Porém, lamentavelmente, o conteúdo da primeira fase parece ter sido perdido. Uma seleção de matérias pode ser encontrada no livro Notícias da favela, escrito por Cristiane Ramalho, que foi redatora, editora chefe e coordenadora do portal entre 2001 e 2005. Publicado pela editora Aeroplano em 2007, o livro se tornou raridade, por estar esgotado, mas talvez possa ser encontrados em sebos e bibliotecas. | ||
Embora os formatos da mídia tenham mudado ao longo de mais de uma década, o traço principal de os textos e imagens serem elaborados por moradores de favelas e periferias, foi mantido durante o funcionamento do Viva Favela. Ao longo de todo esse tempo, alguns deles passaram a coordenar este projeto. | Embora os formatos da mídia tenham mudado ao longo de mais de uma década, o traço principal de os textos e imagens serem elaborados por moradores de favelas e periferias, foi mantido durante o funcionamento do Viva Favela. Ao longo de todo esse tempo, alguns deles passaram a coordenar este projeto. | ||
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[[Arquivo:Estação Futuro- projeto paralelo ao Viva Favela que oferecia acesso livre à internet em favelas do RJ. Local- Rocinha. Autoria-foto- Kita Pedroza.jpg|alt=|miniaturadaimagem|500x500px|Estação Futuro: projeto paralelo ao Viva Favela que oferecia acesso livre à internet em favelas do RJ. Local: Rocinha. Autoria/foto: Kita Pedroza]] | [[Arquivo:Estação Futuro- projeto paralelo ao Viva Favela que oferecia acesso livre à internet em favelas do RJ. Local- Rocinha. Autoria-foto- Kita Pedroza.jpg|alt=|miniaturadaimagem|500x500px|Estação Futuro: projeto paralelo ao Viva Favela que oferecia acesso livre à internet em favelas do RJ. Local: Rocinha. Autoria/foto: Kita Pedroza]] | ||
Como editora de fotografia do portal de 2001 a 2004, aproximadamente, participei de reuniões de elaboração da linha editorial e da arquitetura da mídia (incluindo seus sites internos), anteriores ao seu lançamento. Minha voz se soma a muitas outras presentes naqueles momentos, cada qual com a sua percepção e suas diferentes lembranças. Lembro que, nas reuniões de concepção das sessões do portal, havia sempre a presença de gente que morava em alguma favela; o ponto de partida das conversas, em geral, era buscar uma cobertura “diferente da grande mídia” relativa ao universo das favelas. Guardei comigo alguns arquivos da época; compartilho um trecho, que não tem autoria, mas foi uma orientação, talvez de um conselheiro ou conselheira:<blockquote>Jornalismo comunitário e linha editorial - | |||
Como editora de fotografia do portal de 2001 a 2004, aproximadamente, participei de reuniões de elaboração da linha editorial e da arquitetura da mídia (incluindo seus sites internos), anteriores ao seu lançamento. Minha voz se soma a muitas outras presentes naqueles momentos, cada qual com a sua percepção e suas diferentes lembranças. Lembro que, nas reuniões de concepção das sessões do portal, havia sempre a presença de gente que morava em alguma favela; o ponto de partida das conversas, em geral, era buscar uma cobertura “diferente da grande mídia” relativa ao universo das favelas. Guardei comigo alguns arquivos da época; compartilho um trecho, que não tem autoria, mas foi uma orientação, talvez de um conselheiro ou conselheira: <blockquote>Jornalismo comunitário e linha editorial - | |||
Não existe jornalismo imparcial no Brasil nem em lugar nenhum. Não precisamos, nem devemos reproduzir essa falsa neutralidade ideológica na revista. Penso que a linha editorial deve ser discutida entre os futuros redatores, fotógrafos e um conselho editorial formado também por pessoas das comunidades. A linha editorial surgirá das histórias de vida dessas pessoas, que receberão orientação no sentido prático da linguagem jornalística, por exemplo, quanto à necessidade de as matérias atenderem aos interesses de um conjunto de cidadãos (de favelas, comunidades, conjuntos habitacionais etc) e não apenas individuais. | Não existe jornalismo imparcial no Brasil nem em lugar nenhum. Não precisamos, nem devemos reproduzir essa falsa neutralidade ideológica na revista. Penso que a linha editorial deve ser discutida entre os futuros redatores, fotógrafos e um conselho editorial formado também por pessoas das comunidades. A linha editorial surgirá das histórias de vida dessas pessoas, que receberão orientação no sentido prático da linguagem jornalística, por exemplo, quanto à necessidade de as matérias atenderem aos interesses de um conjunto de cidadãos (de favelas, comunidades, conjuntos habitacionais etc) e não apenas individuais. | ||
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==== Influência sobre a imprensa ==== | ==== Influência sobre a imprensa ==== | ||
Nas palavras de Cristiane, editora do Portal em sua primeira fase (de 2001 a 2005): <blockquote> Esse panorama ajuda a transformar o Viva Favela numa das principais fontes de informação sobre essas favelas. E o que parecia impossível acontece. De repente, a grande mídia começa a ser influenciada por um projeto de comunicação pequeno e independente [frente às estruturas dos grandes jornais], criado e mantido por uma ONG. Com acesso a histórias e personagens que só poderiam ser descobertas na própria favela (...), o portal oferecia aos jornalistas um atalho seguro para chegar às comunidades do Rio (RAMALHO, 2007, pg 18). </blockquote> Pautas eram reproduzidas em telejornais locais, viravam assuntos de programas como o Fantástico, e foram fechadas parcerias com jornais impressos - O Dia e o Expresso - para reprodução de matérias (texto e fotos) do portal, com créditos. | Nas palavras de Cristiane Ramalho, editora do Portal em sua primeira fase (de 2001 a 2005): <blockquote> Esse panorama ajuda a transformar o Viva Favela numa das principais fontes de informação sobre essas favelas. E o que parecia impossível acontece. De repente, a grande mídia começa a ser influenciada por um projeto de comunicação pequeno e independente [frente às estruturas dos grandes jornais], criado e mantido por uma ONG. Com acesso a histórias e personagens que só poderiam ser descobertas na própria favela (...), o portal oferecia aos jornalistas um atalho seguro para chegar às comunidades do Rio (RAMALHO, 2007, pg 18). </blockquote> Pautas eram reproduzidas em telejornais locais, viravam assuntos de programas como o Fantástico, e foram fechadas parcerias com jornais impressos - O Dia e o Expresso - para reprodução de matérias (texto e fotos) do portal, com créditos. | ||
==== Primeira fase (2001 a 2005) ==== | ==== Primeira fase (2001 a 2005) ==== | ||
[[Arquivo:Complexo do Alemão. Fotografia de Rodrigues Moura.jpg|esquerda|500x500px|alt=|miniaturadaimagem|Fotografia publicada no Portal Viva Favela. Matéria: "Vaidade assumida". Data: 15/12/2003. Autoria: Rodrigues Moura]] | [[Arquivo:Complexo do Alemão. Fotografia de Rodrigues Moura.jpg|esquerda|500x500px|alt=|miniaturadaimagem|Fotografia publicada no Portal Viva Favela. Matéria: "Vaidade assumida". Data: 15/12/2003. Autoria: Rodrigues Moura]] |