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Ao contrário dos estudiosos que sustentavam o mito da ruralidade dessas localidades, Leeds afirma que as favelas “são atravessadas por todas as formas de organização comuns à sociedade inclusiva” (Leeds & Leeds, 2015: 164). Das práticas mais simples às mais complexas – mercado de trabalho, associativismo, participação política e social, empreendedorismo, estratégias para obter benefícios próprios, entre outras – da vida dos moradores de favela, todas são orientadas por um conjunto de valores essencialmente urbanos. Por essa razão as favelas não podem ser pensadas de maneira isolada, bem como seus moradores não podem ser pensados como não integrados à vida na cidade. Os dados utilizados para seu argumento são resultado de um trabalho de campo de oito meses nas favelas do Rio de Janeiro (Leeds & Leeds, 2015). Em campo fez inúmeras pesquisas e registros de trajetórias e vivências dos moradores com o objetivo de conhecer a visão dos próprios habitantes e como eles geriam suas atividades cotidianas. | Ao contrário dos estudiosos que sustentavam o mito da ruralidade dessas localidades, Leeds afirma que as favelas “são atravessadas por todas as formas de organização comuns à sociedade inclusiva” (Leeds & Leeds, 2015: 164). Das práticas mais simples às mais complexas – mercado de trabalho, associativismo, participação política e social, empreendedorismo, estratégias para obter benefícios próprios, entre outras – da vida dos moradores de favela, todas são orientadas por um conjunto de valores essencialmente urbanos. Por essa razão as favelas não podem ser pensadas de maneira isolada, bem como seus moradores não podem ser pensados como não integrados à vida na cidade. Os dados utilizados para seu argumento são resultado de um trabalho de campo de oito meses nas favelas do Rio de Janeiro (Leeds & Leeds, 2015). Em campo fez inúmeras pesquisas e registros de trajetórias e vivências dos moradores com o objetivo de conhecer a visão dos próprios habitantes e como eles geriam suas atividades cotidianas. | ||
Para Leeds, a localidade é uma espécie de locus, agregado de pessoas, casas, que possuem uma conexão de relativa permanência em um espaço geográfico e que se relacionam com os seus recursos. As localidades são vistas como “pontos nodais de interação” ( | Para Leeds, a localidade é uma espécie de locus, agregado de pessoas, casas, que possuem uma conexão de relativa permanência em um espaço geográfico e que se relacionam com os seus recursos. As localidades são vistas como “pontos nodais de interação” (Leeds & Leeds, 2015), reunindo uma ampla variedade de comportamentos, relações duradouras, instantâneas, cotidianas que coexistem com vínculos formais, impessoais. O olhar do pesquisador, deste modo, é direcionado à uma rede complexa de diversos tipos de interação, dentre elas, as dos moradores de uma localidade, mediadores (lideranças comunitárias, políticos locais, por exemplo) e representantes de instituições estatais e do poder supralocal. | ||
Um dos pontos situados pelo autor é como as localidades reúnem recursos variados, além de aspectos sociais, territoriais e ambientais que lhes singularizam. Reúnem, também, agentes que irão atrair ou evitar recursos externos às necessidades das comunidades, o que, por excelência, abre um leque para que a política seja exercida. Existem, assim, bases sociais nas favelas que concentram nexos do poder local, abertura à cooperação ou resistência às interferências de instituições supralocais, como o Estado. | Um dos pontos situados pelo autor é como as localidades reúnem recursos variados, além de aspectos sociais, territoriais e ambientais que lhes singularizam. Reúnem, também, agentes que irão atrair ou evitar recursos externos às necessidades das comunidades, o que, por excelência, abre um leque para que a política seja exercida. Existem, assim, bases sociais nas favelas que concentram nexos do poder local, abertura à cooperação ou resistência às interferências de instituições supralocais, como o Estado. | ||
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Esta proposição é vista posteriormente. No final da década de 1960 e início de 1970, Anthony Leeds havia ministrado o primeiro curso de Antropologia urbana no Museu Nacional, tendo Luís Antônio Machado da Silva como um dos seus estudantes. Antes disso, Leeds e Machado já haviam se conhecido, em 1966, relação que influencia a escrita de “Política nas favelas” pelo então aprendiz Machado. | Esta proposição é vista posteriormente. No final da década de 1960 e início de 1970, Anthony Leeds havia ministrado o primeiro curso de Antropologia urbana no Museu Nacional, tendo Luís Antônio Machado da Silva como um dos seus estudantes. Antes disso, Leeds e Machado já haviam se conhecido, em 1966, relação que influencia a escrita de “Política nas favelas” pelo então aprendiz Machado. | ||
A partir desse diálogo, foi inserido na aula o texto de Machado da Silva. Em seu primeiro artigo publicado, datado de 1967, resultado de seu trabalho com Anthony Leeds nas favelas cariocas, mostra como a estratificação social interna nessas localidades se desdobra em uma forma de fazer política (Machado da Silva, | A partir desse diálogo, foi inserido na aula o texto de Machado da Silva. Em seu primeiro artigo publicado, datado de 1967, resultado de seu trabalho com Anthony Leeds nas favelas cariocas, mostra como a estratificação social interna nessas localidades se desdobra em uma forma de fazer política (Machado da Silva, 1967). Machado ressalta que é essencial levar em consideração que a favela apresenta uma forma de organização tipicamente capitalista e as alternativas disponíveis para investimento e acúmulo de capital são diversas. E nessa organização, certos moradores – a “burguesia favelada”, como denomina Machado – monopolizam o acesso, o controle e a manipulação dos recursos econômicos e decisões políticas (Ibidem). Machado também aponta que a própria “tirania” da burguesia favelada vem da inação dos estratos mais inferiores. | ||
Ao chamar atenção para a lógica do capitalista no interior das favelas, o autor salienta a integração entre favela e cidade. Além disso, demarca a heterogeneidade dos moradores de favelas. | Ao chamar atenção para a lógica do capitalista no interior das favelas, o autor salienta a integração entre favela e cidade. Além disso, demarca a heterogeneidade dos moradores de favelas. | ||
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'''Bibliografia:''' | '''Bibliografia:''' | ||
*Leeds, Anthony | *Leeds, Anthony & Leeds, Elizabeth. (2015). A sociologia do Brasil urbano. 2 ed. Organizada por Elizabeth Leeds e Nísia Trindade Lima. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. | ||
*Machado da Silva, Luiz Antonio. “A política na favela”, Cadernos Brasileiros, Ano IX, nº41, maio/junho de 1967, pp. 35-47. | *Machado da Silva, Luiz Antonio. “A política na favela”, Cadernos Brasileiros, Ano IX, nº41, maio/junho de 1967, pp. 35-47. | ||
*Machado da Silva, Luiz Antonio (org.). "Introdução". Vida sob cerco – violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Faperj, 2008. | *Machado da Silva, Luiz Antonio (org.). "Introdução". Vida sob cerco – violência e rotina nas favelas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Faperj, 2008. | ||
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*Machado da Silva, Luiz Antonio; Cavalcanti, Mariana; Motta, Eugênia; Araújo, Marcella (Orgs.). O mundo popular: trabalho e condições de vida. 1. ed. Rio de Janeiro: Papeis Selvagens, 2018. | *Machado da Silva, Luiz Antonio; Cavalcanti, Mariana; Motta, Eugênia; Araújo, Marcella (Orgs.). O mundo popular: trabalho e condições de vida. 1. ed. Rio de Janeiro: Papeis Selvagens, 2018. | ||
*Machado da Silva, Luiz Antonio. Fazendo a cidade: trabalho, moradia e vida local entre as camadas populares urbanas. Mórula Editorial, 2020. | *Machado da Silva, Luiz Antonio. Fazendo a cidade: trabalho, moradia e vida local entre as camadas populares urbanas. Mórula Editorial, 2020. | ||
*Vianna, Rachel de Almeida. O encontro da antropologia com a favela: Anthony e Elizabeth Leeds no Jacarezinho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2023.<blockquote>'''Debatedoras/es: Bruno; Thaís.'''</blockquote> | *Vianna, Rachel de Almeida. O encontro da antropologia com a favela: Anthony e Elizabeth Leeds no Jacarezinho. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2023.<blockquote><br />'''Debatedoras/es: Bruno; Thaís.'''</blockquote> | ||
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