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Tal onda conservadora também tomou conta das favelas e periferias, foram inúmeras adolescentes e jovens lésbicas que passaram a sofrer ainda mais preconceitos por sua orientação sexual dentro destes territórios. Com a chegada da [[Coronavírus nas favelas|pandemia da Covid-19]], em 2020, a convivência familiar para estes grupos piorou, muitas entraram em depressão, outras saíram de seus lares procurando apoio entre os grupos de acolhimento formados na emergência naquele ano. | Tal onda conservadora também tomou conta das favelas e periferias, foram inúmeras adolescentes e jovens lésbicas que passaram a sofrer ainda mais preconceitos por sua orientação sexual dentro destes territórios. Com a chegada da [[Coronavírus nas favelas|pandemia da Covid-19]], em 2020, a convivência familiar para estes grupos piorou, muitas entraram em depressão, outras saíram de seus lares procurando apoio entre os grupos de acolhimento formados na emergência naquele ano. | ||
Por isso, hoje, em pleno 2023, momento em que o país tenta se reerguer destes anos tão difíceis e traumatizantes, temos como papel político visibilizar e tornar memória ações como a do Ocupa Sapatão, atividade realizada desde 2017 pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro. | Por isso, hoje, em pleno 2023, momento em que o país tenta se reerguer destes anos tão difíceis e traumatizantes, temos como papel político visibilizar e tornar memória ações como a do Ocupa Sapatão, atividade realizada desde 2017 pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro. A Ocupa é organizado por movimentos sociais de lésbicas e ativistas autônomas que constroem de maneira horizontalizada o 29 de agosto e atividades do mês da visibilidade lésbica. | ||
Para falar um pouco sobre a história | Para falar um pouco sobre a história da Ocupa Sapatão e a importância de agosto ser lembrado como o mês da visibilidade lésbica, o Dicionário de Favelas Marielle Franco conversou com Camila Marins, Michelle Seixas e Dayana Gusmão. Ambas são referências na luta de lésbicas, negras e faveladas não só no Rio, mas em diversas outras partes do país. | ||
De acordo com a jornalista e mestra em Direitos Humanos e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Camila Marins, tudo começou em 2017 quando a vereadora Marielle Franco convidou os movimentos e as militantes lésbicas para uma reunião em seu gabinete no dia 13 de março. "Ali, nos reunimos como Coletiva Sapa Roxa; Coletiva Visibilidade Lésbica; Liga Brasileira de Lésbicas; dentre outras militantes e ativistas autônomas. Marielle, numa prática feminista e de esquerda, convidou o conjunto dos movimentos sociais para uma construção coletiva". | De acordo com a jornalista e mestra em Direitos Humanos e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Camila Marins, tudo começou em 2017 quando a vereadora Marielle Franco convidou os movimentos e as militantes lésbicas para uma reunião em seu gabinete no dia 13 de março. "Ali, nos reunimos como Coletiva Sapa Roxa; Coletiva Visibilidade Lésbica; Liga Brasileira de Lésbicas; dentre outras militantes e ativistas autônomas. Marielle, numa prática feminista e de esquerda, convidou o conjunto dos movimentos sociais para uma construção coletiva". | ||
Segundo Camila, juntas escreveram o Projeto de Lei que incluía o Dia da Visibilidade Lésbica no calendário oficial da cidade. Além disso, foi feita uma estratégia de mobilização pela aprovação. "Foram realizadas reuniões em diferentes territórios como o espaço Resiliência, na Vila da Penha; Sarau da Visibilidade Lésbica com grafite e slam na Providência; a oficina 'Confeitando afetos' na Maré", contou. | Segundo Camila, juntas escreveram o Projeto de Lei que incluía o Dia da Visibilidade Lésbica no calendário oficial da cidade. Além disso, foi feita uma estratégia de mobilização pela aprovação. "Foram realizadas reuniões em diferentes territórios como o espaço Resiliência, na Vila da Penha; Sarau da Visibilidade Lésbica com grafite e ''slam'' na Providência; a oficina 'Confeitando afetos' na Maré", contou. | ||
Até que foi marcado o lançamento da Campanha pela Visibilidade Lésbica no Rio de Janeiro, no dia 16 de maio de 2017, organizada pela Liga Brasileira de Lésbicas, Coletiva Visibilidade Lésbica e Sapa Roxa. No encontro, foi realizada a roda de conversa “Violência, Saúde, Trabalho e Educação”, com participação de Marielle Franco, Michele Seixas, Ana Almeida, Geisa Garibaldi e Pâmela Souza, com mediação de Camila Marins ao lado de Virgínia Figueiredo, a primeira candidata lésbica no Brasil. Foram mais de 100 sapatonas lotando o plenarinho da Câmara Municipal. "Essa foi uma noite histórica porque invadimos o plenário maior que realizava uma audiência pública sobre a Parada LGBTQIA+ do Rio de Janeiro e denunciamos o apagamento e a lesbofobia", disse Camila. | Até que foi marcado o lançamento da Campanha pela Visibilidade Lésbica no Rio de Janeiro, no dia 16 de maio de 2017, organizada pela Liga Brasileira de Lésbicas, Coletiva Visibilidade Lésbica e Sapa Roxa. No encontro, foi realizada a roda de conversa “Violência, Saúde, Trabalho e Educação”, com participação de Marielle Franco, Michele Seixas, Ana Almeida, Geisa Garibaldi e Pâmela Souza, com mediação de Camila Marins ao lado de Virgínia Figueiredo, a primeira candidata lésbica no Brasil. Foram mais de 100 sapatonas lotando o plenarinho da Câmara Municipal. "Essa foi uma noite histórica porque invadimos o plenário maior que realizava uma audiência pública sobre a Parada LGBTQIA+ do Rio de Janeiro e denunciamos o apagamento e a lesbofobia", disse Camila. | ||
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Neste dia, cerca de 40 mulheres lésbicas – com o apoio de pessoas trans da CasaNEM – ocuparam a galeria da Câmara Municipal para pressionar os vereadores que reverberaram lesbofobia e machismo. Camila contou nesta entrevista que toda essa raiva foi utilizada como instrumento pedagógico de luta: "Lembro que houve uma reunião na minha casa, estávamos sentadas no chão e pensamos juntas o nome Ocupa Sapatão, como um movimento político de denúncia e resistência, com falas e apresentações artísticas em frente à Câmara Municipal, na Cinelândia". | Neste dia, cerca de 40 mulheres lésbicas – com o apoio de pessoas trans da CasaNEM – ocuparam a galeria da Câmara Municipal para pressionar os vereadores que reverberaram lesbofobia e machismo. Camila contou nesta entrevista que toda essa raiva foi utilizada como instrumento pedagógico de luta: "Lembro que houve uma reunião na minha casa, estávamos sentadas no chão e pensamos juntas o nome Ocupa Sapatão, como um movimento político de denúncia e resistência, com falas e apresentações artísticas em frente à Câmara Municipal, na Cinelândia". | ||
No dia de realização | No dia de realização da Ocupa, naquele 29 de agosto, quando todas elas pensaram que seria uma noite delas, o inesperado aconteceu… Uma manifestação invadiu o ato e um dos homens tentou pegar o microfone sob o argumento de “que todas ali elas eram companheiros”. Camila lembrou que naquela ocasião, duas mulheres com uma força gigante evocaram respeito e diziam: "Porque, sim, somos companheiros e companheiras na luta e estamos todos os dias nas ruas com todo mundo, mas no nosso dia queriam, mais uma vez, apagar o nosso ato. E aí sempre perguntamos: quando todas as pessoas companheiras vão apoiar as sapatonas?", argumentou. | ||
Ao perguntar sobre as principais pautas levantadas durante a construção de todos as Ocupas realizados durantes estes anos, Camila afirmou que, <blockquote>"a visibilidade lésbica é uma pauta central, e isso não significa close, pois queremos estar nas políticas públicas. Hoje, convivemos com um apagamento de dados e das políticas públicas específicas para lésbicas. Por exemplo, se vamos fazer um preventivo e falamos que somos lésbicas, a narrativa dos médicos é a de que não precisamos fazer o exame, o que é uma lesbofobia enorme". </blockquote>Também é pautado sobre a visibilidade lésbica nas escolas, pois segundo Camila, é preciso cada vez mais falar sobre os direitos das lésbicas nos espaços escolares como uma forma de combater o bullying lesbofóbico. Afinal, quem nunca viu uma frase de ódio escrita em carteira ou em porta de banheiro? Ou quando meninas e jovens sofrem estupro corretivo dentro de suas casas apenas por serem lésbicas? <blockquote>"Nós combatemos e denunciamos essas violências. Além disso, em nossas manifestações sempre reivindicamos justiça por Marielle. Em alguns anos, tivemos como mote a luta contra a militarização da vida; em defesa do direito à água contra a privatização da Cedae e outros impactos que atingem diretamente as nossas vidas".</blockquote> | |||
== Ocupa Sapatão 2023, participação das favelas e a escolha dos temas prioritários == | == Ocupa Sapatão 2023, participação das favelas e a escolha dos temas prioritários == |